quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

'Na vida, observa-se facilmente a diferença de comportamento segundo o tipo de situação.
Sendo o contexto carregado de informações, em particular emocionais, o sobredotado não chega a canalizar a sua atenção. Ele se coloca em modo <vigia> e não permite entrar em seu cérebro a não ser o mínimo de informações vitais... Nestes momentos, tem-se a impressão que ele não escuta, que ele não está lá. Por vezes prejudicial para ele e muito provocante para o meio. Ele está em modo econômico! Então, para se fazer entender, será preciso repetir um grande número de vezes!
O sobredotado funciona em tudo ou em nada. Mas, para ele, o tudo, é frequentemente demais.
Não é verdadeiramente escutar, não é verdadeiramente refletir com uma economia de energia cerebral. Um sobredotado pode verdadeiramente dar a impressão de ser idiota a tal ponto, ele pode às vezes reagir, tomar decisões, de maneira irrefletida. O mais frequente: em modo vigia, ele responde, toma uma decisão superficial ou pior, de lado. Donde vêm numerosos erros e conflitos inextricáveis. muito difícil efetivamente compreender e aceitar que este ser inteligente e sensível teria podido agir, intervir, de forma tão inadaptada. Não se pode chegar a o crer. Frequentemente o sobredotado procurará vos persuadir que ele não o fez de propósito, que ele não pensou nas consequências, que ele não havia bem compreendido e, tão surpreendente e desconcertante que isto possa parecer, é verdade! O que o pode conduzir a impasses de comunicação: o outro não pode entender uma inverossimilhança igual e insiste. Então o sobredotado, no fim de argumentos justificáveis, deixa o <combate>. Ele se fecha, não diz mais nada, foge. Ele não sabe mais o que é preciso dizer e prefere se subtrair à confrontação por impotência de afrontar. Ele não tem argumentos válidos, ele o sabe, mas o outro não pode admitir.
As crises, os conflitos, as reclamações sem fim, as punições, as reprimendas, segundo a disposição de cada um dos protagonistas, serão as consequências desse <desfuncionamento> ativado bem involuntariamente pelo sobredotado, ele mesmo infeliz de tanta incompreensão recíproca.
Vê-se como esse funcionamento pode ser compreendido como de insolência, de impertinência ou de provocação.
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No sobredotado, todas a informações são captadas nas redes de neurônios que circulam e se repartem em várias partes do cérebro. As conexões não são localizadas numa zona cerebral distinta (o que se observa atualmente com as localizações funcionais). De mais, o tratamento é simultâneo, o que significa que tudo é tratado ao mesmo tempo e no mesmo nível de importância. O número de neurônios tocados é reduzido de velocidade. Eles têm efetivamente... a cabeça cheia!
Este 'trio automático' não se aciona no cérebro do sobredotado que se reencontra em face de uma multidão de informações que se deve tratar 'manualmente'. Fala-se em déficit de inibição latente. O que supõe um esforço singular para se 'colocar' dentro de sua cabeça e determinar quais são os dados a privilegiar. Compreende-se bem a dificuldade que encontra o sobredotado quando ele deve organizar e estruturar seu pensamento. E quanto resta a capturar com todas as emoções e sensações associadas.
O estilo <independente do campo> permite descontextualizar facilmente e de ser mais eficaz na ativação das capacidades intelectuais. O espaço é desobstruído para desencadear o recurso necessário à resolução de um problema dado. Ele é associado às personalidades independentes, pouco influenciáveis e que chegam a colocar de lado o afetivo quando é necessário. Elas sabem fazer <parte das coisas>.
Nada disso tudo para os <dependentes do campo>, que são rapidamente afogados em tudo o que os cercam e que não chegam a extrair o essencial (ou o que parece sê-lo). Os sobredotados, é claro, são estes aqui!
Particularmente perdidos na abundância da sua percepção das coisas, o sobredotado não opera a diferenciação necessária a um tratamento rápido e eficaz dos dados. Mais ainda, sua dependência do contexto é amplificada pela dimensão afetiva.
Um sobredotado é sempre dependente do contexto afetivo, ele não sabe, ele não pode funcionar sem levar em conta a dimensão e a carga emocional presentes.'
O desafio: selecionar a informação pertinente.
Nessa ativação cerebral permanente e acelerada, como chegar a reparar a informação principal? Como distinguir o dado pertinente para resolver o problema ali, naquele momento? Tudo vai muito rápido e tudo aparece no cérebro ao mesmo tempo. Quando se tenta agarrar uma ideia, ela está já muito longe e outras centenas surgiram. Como, enfim, liberar-se da carga emocional que se ativa no mesmo ritmo que os neurônios e que provoca o pensamento em zonas ainda mais longínguas?' (Siaud-Facchin)

domingo, 9 de dezembro de 2018

Superdotação e Currículo (parte I)
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Quando nos perguntamos sobre o currículo mais adequando a educação de alunos superdotados, estamos coadunados com o princípio da educação qualitativamente diferenciada, ou seja, atender as necessidades, estilos, ritmos e potenciais de cada aluno. Devemos perceber que tal princípio está amplamente imerso nos valores defendidos pelos direitos humanos, que contemplam tratamentos diferenciados às pessoas com vistas à garantia da equidade dos direitos.
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O Brasil ainda precisa avançar muito em termos práticos na perspectiva de uma educação mais isonômica, especialmente no que tange a educação dos alto habilidosos e mesmo que aqui não existe um modelo de ensino-aprendizagem formalmente instituído, podemos elencar princípios coletados dos melhores modelos educacionais do mundo, por exemplo, em 1982 Passow e equipe sugeriram algumas orientações basilares que podemos citar e discutir (in Sodré, 2006, p.91):
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1) Conteúdo que explore diferentes sistemas de pensamento.
 “O conteúdo dos currículos para superdotados deve ser organizado para incluir o estudo mais elaborado, complexo e profundo de ideias, problemas e temas que integrem o conhecimento de diferentes sistemas de pensamento” (in Sodré, 2006, p. 91).
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Comentários.
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Já discutimos que os superdotados têm sede por conhecimentos e buscam níveis de profundidades muito maiores nos assuntos que estudam quando comparados que a maioria das pessoas. Dessa forma, a condição de enfado ou desinteresse diante de aulas cujas temáticas ou detalhismos sejam rasos serão sentidas pelos mais talentosos. Imagine se você fosse obrigado a ouvir novamente uma mesma lição que já domina completamente, que tivesse de ficar sentado ouvindo e escrevendo em níveis de pensamento e conhecimentos aquém do seu potencial? Para quem está na infância e adolescência, momento em que sua função executiva de autocontrole ainda está imatura ou em desenvolvimento, seria um tormento, ao mesmo tempo que um convite a transgressão, delinquência ou fuga da sala de aula.
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Quando Passow propõe a integração de diferentes sistemas de pensamento, está desafiando não apenas a cognição do sujeito em uma área de domínio, mas projetando também a articulação de diversos módulos de inteligência ou capacidades, o que representa uma multiplicidade de desafios. Por exemplo, o reconhecidíssimo sistema de ensino Finlandês, no ano de 2016, inicia uma forma ainda mais arrojada de tratamento dos conteúdos, pois agora não estarão condicionados a disciplinas específicas, mas orbitarão em torno da solução de problemas ou temas de estudo. Em outras palavras, estimularão os alunos a pensarem de maneira inter ou transdisciplinar, por exemplo, se os alunos forem estudar algo sobre a “Idade Média”,  farão abordando as diversas facetas do tema, por exemplo, os castelos serão visto do ponto de vista arquitetônico e as influências culturais, bem como estrutura física para guerras/conflitos, serão entendidas das relações matemáticas que envolvem sua estrutura; observados os impactos para biologia das pessoas que lá habitavam, analisados os componentes geológicos e químicos que os compunham, dentre outras abordagens que poderiam ser feitas segundos os níveis, limites e possibilidades de cada segmente escolar. Portanto, estudar a partir dos múltiplos  fenômenos que compõem uma realidade de maneira integrativa ou transdisciplinar é realmente uma proposta bastante desafiadora e perfaz uma aprendizagem bastante assentada na experiência e na mobilização de múltiplos recursos cognitivos (phenomenon learning).
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Para saber um pouco mais sobre as mudanças no modelo finlandês, lei a matéria:
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www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151206_finlandia_educacao_muda_fn
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2) Níveis de pensamento mais elevados.
“O currículo deve facilitar o desenvolvimento e a aplicação de habilidades de pensamento produtivo, para permitir que os alunos reconceitualizem o conhecimento existente ou criem conhecimento novo” (in Sodré, 2006, p. 91)
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Comentários.
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Os níveis de pensamento criativo e crítico dos alto habilidosos são mais elevados e precisam ser sempre estimulados e bem empregados. Todos os especialista do campo ratificam que o potencial criador deve ser aproveitado, canalizado e expandido ainda mais com atividades que sejam desafiadoras e imbuídas de propósito maior, especialmente de cunho ético. A aprendizagem baseada problemas ou projetos, bem como o modelo de enriquecimento escolar renzulliano  são amplamente indicados nessa perspectiva e permitem ao mesmo tempo, explorar novos assuntos, treinar habilidades cognitivas e sociais e buscar a solução de problemas reais.
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A estimulação do pensamento produtivo compreende a expansão do pensamento divergente, a capacidade criadora pela busca de novas soluções para os mesmos problemas que afligem a sociedade, independente da natureza dos mesmos.
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Essa é uma necessidade crucial nos tempos líquidos, em que o panorama civilizatório se tornou muito complexo e diversificado, com níveis e tipos de problemas com um amplo espectro de dificuldade e alcance, por exemplo, os desafios para conservação ambiental, os dilemas éticos hodiernos, os enfrentamentos de ordem sociais (corrupção, violência, desigualdades sociais...), dentre outros.
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3) Currículo em sintonia com os desafios hodiernos.
“O currículo deve facilitar a exploração do conhecimento em perpétua mutação e o desenvolvimento da atitude de apreciação de busca de conhecimento em mundo aberto” (in Sodré, 2006, p. 91).
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Comentários.
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Essa perspectiva curricular está bem concertada com a noção de currículo capaz de preparar os cidadãos para lidarem com o que Bauman relata serem: as incertezas diariamente fabricada; as ambiguidades da vida; a capacidade de viver em paz e com a diversidade; a competência em processar o “novo” e todas as alegrias, dúvidas, angustias ou medos com ele trazidos.
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Sabemos que o mundo como hoje se desvela nos atravessa com múltiplos desafios, sejam esses congnitivos (precisamos aprender mais e em menos tempo, bem como saber usar tais conhecimentos adequadamente), sociais (precisamos enfrentar a imbricada teia social, compreendendo e respondendo adequadamente as causas e consequências dos problemas), éticos (precisamos compreender em um nível de pensamento “para além do senso comum” as questões éticas, respondendo corretamente o que queremos, o que podemos e o que devemos fazer em cada situação dilemática).
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Os indivíduos superdotados, quando bem educados e não apenas bem instruídos, pois instrução é muito menos que educação! Estarão melhor preparados para mobilizar os seus talentos, sempre investidos de propósito ético, para resolução dos problemas reais que se renovam ou se repaginam de tempos em tempos. Portanto, um currículo que encare a mutabilidade do conhecimento, que se desevencilhe do engessamento, da alienação e da fragmentação é essencial para educação de todos, com destaque aqui, para a dos alto habilidosos.
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Igor Paim
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Continuaremos na próxima postagem.
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Críticas? Dúvidas? Sugestões?
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Envie para educacaodesuperdotados@gmail.com
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Bibliografia
PASSOW, A.H. Differentiated curricula for the gifted/talented. Ventura: National/State Leadership. Training Institute on the Gifted and Talented. 1982.
SODRÉ, S.G. Educação de Superdotados: Teoria e prática. São Paulo: EPU. 2006.
SODRE, S.G. Superdotação e currículo In: Altas Habilidades/superdotação, inteligência e criatividade: Uma visão multidisciplinar. Campinas, SP: Papirus 2014.
WINNER, E. Crianças sobredotadas. Portugal: Instituto Piaget, 1996.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

"La douance n'est ni une maladie, ni une tare ; pas plus qu'un problème en soi !

Ce sont les décalages & les incompréhensions avec l'extérieur qui font souffrir une personne à #HautPotentielIntellectuel...

Alors quand l'hypersensibilité s'en mêle, ça peut devenir délicat undecided" Les zebres.

sábado, 10 de novembro de 2018

"J’étais tellement soumis aux coups." Lohann, 10 ans, surdoué, a été déscolarisé trois semaines à cause de harcèlement
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10157469717247784&id=43896752783

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Sobredotação ~ hipermaturidade infantil aliada à hipersensibilidade e extrema ingenuidade (pode parecer incoerente),  e sempre uma criança que por vezes tenta parecer 'adulto,' em toda sua vida.
Ricos recursos internos. Inteligência arborescente.

domingo, 4 de novembro de 2018

Surdouance

Surdouance ~ un fonctionnement different. ~ ils ont un soif d'absolu ~ s'autoriser à être elle même ~ toujours à la recherche de protection💛

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

'Como, efetivamente, integrar e admitir este paradoxo central que fragiliza o sobredotado sobre seu percurso: a relação íntima que existe entre a extrema inteligência e a vulnerabilidade psíquica.'

domingo, 16 de setembro de 2018

Breves trechos

A ingerência afetiva está sempre presente no sobredotado, aí compreendido o ato cognitivo.
... os sobredotados não são pequenos gênios. Eles não são sempre uma inteligência quantitativa superior, explica Jeanne Siaud-Facchin, que seguiu e estudou numerosos sobredotados. "Essas zebras, como eu gosto de denominá-los, têm um raciocínio diferente, que mescla uma inteligência qualitativamente singular e uma emocionalidade toda também particular"
"Confunde-se sucesso, aquele admitido por todos, com o sentimento de sucesso, que escapa às regras estabelecidas. É íntimo, pessoal. Uma alquimia sutil cujo segredo é diferente para cada um." (J. Siaud-Facchin)
http://osobredotado.blogspot.com.br
http://inteligenciadiferente.blogspot.com.br

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

"Comment je suis devenu stupide", Martin Page.

Livro Comment je suis devenu stupide, de Martin Page.
"(...) Antoine prit la résolution de couvrir son cerveau du suaire de la stupidité. (...) on a souvent plus avantage à être bête qu'intellectuel assermenté." "Et ce sont précisément son intelligence et sa lucidité qui lui gâchent l'existence. Aussi décide-t-il d'arrêter de penser."

sábado, 7 de abril de 2018

les zèbres

Spécial dédicace à tous les extraterrestres, les zèbrés, les connectés, et tous les allumés du bocal trop différents pour être complètement de ce monde...(au sens figuré, le bocal étant la boîte crânienne et par assimilation le cerveau.) le surdoué. Si fragile et si fort... Par Jeanne Siaud-Facchin.

terça-feira, 27 de março de 2018

traduções. notas. Da obra de J. Siaud-Fachin.

Quando se é sobredotado, não se sente jamais, então jamais, superior aos outros. E, entretanto, esta ideia do sentimento de superioridade que se vivenciaria porque se é sobredotado martela tanto os espíritos... daqueles que não o são!

conexão com as emoções
'É preciso que eu esteja conectado com as minhas emoções para poder dizer as coisas. Se me pedem num segundo momento minha idéia sobre qualquer coisa, eu não sei mais, pois eu não estou mais conectado com a alquimia de meu pensamento.', diz um sobredotado. 
A impossibilidade de dizer sem estar totalmente conectado ao seu pensamento, aqui e agora do que se deseja exprimir.
O tempo: estar sempre deslocado
O sobredotado raramente está no tempo certo e esta diferença gera uma desagradável sensação de estranheza e, paradoxalmente, de incompreensão do mundo. 
Uma diferença no tempo gera sempre problemas de comunicação com os outros: não se compreende, não se está sincronizado.
Não estar certo sobre o mesmo tempo: o grande malentendido com o mundo! 
Forma atípica de funcionamento intelectual. Levar em conta este funcionamento sob duas versões: intelectual e afetivo. Planos afetivo e cognitivo. Estão intrincadas. 
Esqueçamos de imaturidade, e falemos de hipermaturidade. O sobredotado é um ser profundamente afetivo. Eis o que lhe dá por vezes este qualificativo de imaturo.É um camaleão, para ajustamento às pressões do ambiente. Ele joga com sua inteligência e sua sensibilidade para sua adequação ao mundo.
Pode ser deprimido, pois tenta ser no exterior diferentemente do que vive no seu interior, por medo de ser rejeitado.
Ingenuidade marcante, expressão da credulidade. Ele crê no maravilhoso, no mágico.
O entusiasmo, uma imensa energia a consumir sem moderação.
Hiperativação cerebral: tempestade sobre um crânio.
Sintaxe correta, vocabulário rico e elaborado, desde muito cedo em idade. Borbulhamento cerebral difícil a canalizar.
Todas as informações são tratadas ao mesmo tempo e no mesmo nível de importância, e tem-se a impressão de perder as idéias essenciais. As conexões não são tratadas numa zona cerebral distinta (o que se observa atualmente com as localizações funcionais).
Quando se tenta agarrar uma idéia, ela já está muito longe e outras centenas surgiram. Como, enfim, liberar-se da carga emocional que se ativa no mesmo ritmo que os neurônios e que provoca o pensamento nas zonas ainda mais longínquas?
Sempre dependente do contexto afetivo, não podem funcionar sem levar em conta a dimensão e a carga emocionais presentes. Estilo cognitivo diferente, que não tem a mesma eficácia intelectual e tem um vínculo com o traço de personalidade.
Sendo o contexto carregado de informações, em particular emocionais, ele não chega a canalizar sua atenção. Ele se coloca em 'modo vigia' e não permite entrar em seu cérebro senão o mínimo de informações vitais... Neste momento, tem-se a impressão de que ele não escuta, de que ele não está lá! Por vezes, prejudicial para ele e muito provocante para o meio. Ele está em modo econômico! Então, para se fazer entender, será preciso repetir um grande número de vezes!
Do muito pensar à impulsividade: uma particularidade de funcionamento na origem de conflitos inúteis.
Insatisfação crônica do sobredotado. Necessidade de mudar constantemente de profissão, sem jamais verdadeiramente encontrar o seu lugar. Como decidir e não renunciar? Nas entrelinhas se desenha uma forma de sentimento de tudo-poder: eu gostaria de tudo fazer! Fonte de sentimento que não o deixa jamais em paz. Tudo é constantemente repensado e colocado em questão. Uma armadilha desta singular forma de pensar, sem relaxamento.
Tédio. Para o sobredotado, é necessário que a vida seja sempre brilhante, fatos de novos acontecimentos, emoções fortes, alegrias intensas, êxitos sublimes... Com o coração e a cabeça, com o desejo no ventre. Tudo com o mesmo objetivo, o único válido para o sobredotado: um objetivo profundamente humanista.
Hiperatividade (ou mais adequado, sobreatividade, para naõ confundir com a patologia denominada hiperatividade): a outra face do tédio.
Impaciente de esperar os outros. A impaciência é tão penosa a suportar com todo seu cortejo de sensações físicas e psíquicas, mas tb com todas as críticas, os ataques que ele suscita. Eis o risco: desinvestir. Torna-se passivo. Não implicado. Ele não tem mais opinião. Retiro pensalizante.
Encontra-se constantes: a instabilidade amorosa.
Necessidade de estimulações amorosas constantes. O que o motiva: se sentir livre! São escapatórias ao tédio existencial.


O sentimento do outro: muito próximo do que vive o outro, na sua impotência de ajudá-lo, o sobredotado se afasta. Tenta bloquear ao máximo toda receptividade emocional para não mais sentir. Uma forma de sobrevivência... jamais uma falta de compaixão.
A inversão: não sentir mais nada.
A imensa solidão: nascida dessa distância sempre sentida entre si e o mundo, entre si e os outros. O sobredotado, de sua torre de controle, observa as falhas, as fragilidades, os limites...
Um engajamento absoluto. O sobredotado investe a fundo no outro, na relação, na confiança. A noção de amigo é uma noção absoluta.
- Singularidades nos processos neurofisiológicos da percepção sensorial.
- Tentar comunicar-se, enquanto não se funciona segundo os mesmos processos.
- A criança sobredotada, mesmo acabando silenciosa, tem necessidade de ser perpetuamente tranquilizada. Funcionamento fora das normas escolares.
- Relação com o mundo sempre singular.
- Vive ataques injustificados, desde criança, sobretudo na escola.
- Um déficit de inibição latente que obriga o sistema cerebral a integrar todas as informações provenientes do exterior sem uma seleção prévia. Ele tem a cabeça cheia.
- A precisão absoluta é fundamental, compreensão literal das coisas. É preciso explicar o contexto para que ele compreenda. Senão ele não compreende, ou compreende de outra forma. Aqui está a fonte de malentendidos penosos. No meio profissional, relação de forças se entabula com um patrão ou colaborador.
- Dificuldade de referências identificatórias, e quando criança se constrói geralmente sozinho.
- Sente-se todo-potência, e por outro lado, frágil e vulnerável.
- A impossível certeza: cada nova resposta atrai uma nova questão. Então, a dúvida é permanente e sobre todos os assuntos. Este modo de funcionamento acarreta uma forte problemática em torno da escolha. Escolher é renunciar... E os outros insistem na idéia de que não há mais a escolha de... não escolher!
Compreende-se o quanto a inteligência é ansiogênica.
- A resistência ao sentimento amoroso é muito forte, e deve-se ao medo. Medo de soltar todos os diques, de revelar sua vulnerabilidade e sensibilidade, de sofrer.
Única saída: sabotar a inteligência. Trata-se realmente de um ataque de si, de um retorno agressivo contra si mesmo.
A inibição intelectual lhe permite igualmente se recobrir com uma máscara de pseudo-debilidade que o ajuda a passar despercebido.
As faíscas de pensamento reacendem esta vivacidade intelectual sempre intacta e a qual, apesar de tudo, o adulto sobredotado continua a se conectar. Em segredo.
O atraso é uma outra forma de deslocamento. Para ele, alguns conferem uma importância desmesurada a valores que parecem a ele tão subsidiários, que estes sejam valores de sucesso, de dinheiro, de bens materiais.

Deseja ser verdadeiramente compreendido pelo que se é e ser aceito nas suas singularidades. Isto supõe um ajustamento constante.
Ficou constatada a quase-invisibilidade destes alunos na sala de aula, dentro de suas próprias famílias e, inclusive, para eles próprios. Existem fatores que impedem seu reconhecimento e atendimento na sala de aula e outros ambientes sociais ou laborais. Um desses fatores é o desconhecimento e a falta de valorização (ou a supervalorização) das características e comportamentos destas pessoas, o que significa a negação de suas necessidades enquanto sujeitos aprendentes, que juntamente com os mitos populares existentes numa sociedade que procura a 'normalidade' e a regra, mitos de igualdade impostos, geram inaceitação que se refletem em todo o ambiente no qual a pessoa sobredotada vive.
Quando é reconhecida, pode gerar medo, ódio, inveja ou supervalorização, por manter-se a ideia que, por ser SD, não precisa de atenção.
Em ambientes socioeconômicos e culturalmente desfavorecidos, encontra-se ainda o que Guenter (2006) denomina de Impotência Aprendida, que faz com que as SD se sintam incapazes de dar respostas adequadas às demandas das estruturas de poder porque o que elas produzem, pensam ou dizem, mesmo quando são produtos ou ideias dignos de destaque, não são reconhecidos como indicadores de uma capacidade superior, mas considerados como uma exceção ou atribuídos à sorte, ao acaso, a alguma ajuda humana ou supra-humana.
O mesmo acontece nos ambientes laborais, nos quais a pessoa sobredotada geralmente desenvolve tarefas ou atividades rotineiras, que estão aquém a sua capacidade de desempenho.

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A falha espaço-temporal:
viver em vários espaços-tempos

< Isto se complica ainda. O sobredotado se sente multiidade, mas ele se situa igualmente em vários espaços-tempos: passado-presente-futuro. Tempo do vivido individual, mas que é também recolocado no contexto do espaço-tempo do universo. Tomar uma decisão no aqui e agora torna-se muito difícil por este levar em conta o antes, o depois, mas também o outro lugar. A perspectiva de si é muito diferente pois relativizada na escala do tempo e do espaço.
Isto corresponde à impossibilidade para o sobredotado de se desatar do contexto. Sua existência, sua razão de ser e de viver, é dependente dA Vida, com um A e um V maiúsculos. Sua pequena vida é religada ao sentido do mundo. Mesmo se o sentido o escapa, ele não pode se considerar como isolado do resto. Toda sua vida pessoal, insignificante, é perpetuamente colocada em perspectiva à escala do universo. Para o sobredotado, somente esta perspectiva universal e intemporal pode ter sentido e dar sentido à vida comum de cada um.
É evidente que esta visão das coisas, de sua vida como de si, engendra interrogações de respostas impossíveis. E que elas levam, inexoravelmente, a abismos de angústia sem nome.
Para um sobredotado, existe assim raramente um acordo íntimo entre o que ele é e o que ele faz. Persiste uma distância, tão ínfima seja ela, que cria certo desconforto que conduzirá seja à ultrapassagem de si, seja a uma aceitação obrigada, fonte de frustração.
Para se liberar, alguns sobredotados vão pegar o contra-pé: em sobreestimando sua importância e sua vida, eles tentam desafiar questões que os atormentam. Elas estão sufocadas, ele não as entende mais, preocupado que ele está de magnificar sua existência e sua pessoa. Não nos enganemos. É uma hipocrisia. Útil por vezes, pois protetora. Frágil sempre, pois não colocando jamais ao abrigo de um tremor interior ou de uma sacudida exterior que fará remontar ao mais profundo de si mesmo a essência mesmo de seu ser.


O tempo:
estar sempre deslocado

O tempo fala de movimentos. De ritmo. No sentido onde certos movimentos são mais rápidos que outros. Que movimentos mais lentos sucedem os ritmos acelerados. Estar no tempo, é estar no movimento da vida, calçado no mesmo ritmo que todo mundo.
O tempo é o problema central do sobredotado: ele não está jamais no bom tempo! Ele não está jamais sincronizado com o movimento geral. Ele está em diferença permanente: em avanço, ou não-atividade. Em atraso, ou parado.

• Em avanço, ele vai geralmente muito, muito mais rápido. Para perceber, para analisar, para compreender, para sintetizar. Abraçando um perspectiva ampla todos os dados de um problema, de uma situação. Por intermédio de seus sentidos sempre em alerta e que captam, tratam, integram os menores detalhes presentes. Dotado daquela empatia que confina às vezes tanto ao masoquismo as emoções dos outros vividas por procuração... Então, o sobredotado tem uma perspectiva visionária: ele dá o resultado quando os outros arrancam, ele compreende quando a formulação da questão não terminou, ele sabe o que fazer ao passo que cada um interroga, ele vai muito rápido! O ritmo dos outros parecem a ele nestes momentos a uma velocidade reduzida. O movimento da vida parece a ele dormente.
Um avanço que o estorva pois ele está frequentemente sozinho sem ninguém com quem partilhar. Um avanço que o obriga a esperar, a ver os outros fazerem, a encontrar seus passos falsos ao passo que ele já o sabe. Mas o que dizer, como dizer em permanência o que é preciso fazer e como o fazer sem passar por um ser orgulhoso e convencido? Sem passar por aquele a quem se diz: “De toda maneira, você tem sempre razão.” Mas nesta frase muito de agressividade escondida, de rivalidade, de inveja, de ciúmes. De irritação também.
A duração do avanço do sobredotado pode se revelar num grande número de setores da vida pessoal ou profissional. Em avanço sobre os outros, em avanço sobre seu tempo, em avanço em sua vida. Ter idéias revolucionárias, é bom, mas é preciso as < fazer passar > em as justificando. Mais difícil. Saber, antes que outro tenha acabado, o que ele vai dizer, irritante para aquele que fala, que se sente violado na sua intimidade. Compreender antes e melhor que aquele < suposto saber > pode se revelar dramático na empresa... Pode-se multiplicar os exemplos ao infinito. Todos estes momentos de vida < deslocados > e finalmente desconfortáveis. Estar em avanço, por que fazer?

• Imobilizado ou em não-atividade: são todos estes momentos onde a hiperpercepção do ambiente pode colocar em epígrafe um minúsculo detalhe sobre o qual o sobredotado fixa sua atenção. Ao passo que os outros continuam a avançar, que o ritmo da discussão prossegue, que a vida caminha, o sobredotado, ele, fica imobilizado. Cativo. Este ínfimo detalhe que não interessa a ninguém, que ninguém mesmo o reparou, a ele parece de uma importância capital. Para ele, se se não leva em conta esta pequena parte do problema, da situação, não se chega a um resultado satisfatório. Passa-se de lado. Então ele para, examina, reflete, tenta integrar este segmento do real. Os outros estão longe, ele está sempre lá.
• O atraso é uma outra forma de deslocamento. Uma nobre forma. Desta vez aqui é a hiperconscientização da vida que não coloca o sobredotado no mesmo tempo. Para ele, alguns conferem uma importância desmesurada a valores que parecem a ele tão subsidiários. Que estes sejam valores de sucesso, de dinheiro, de bens materiais. Ele tem por vezes a impressão que numerosas pessoas correm permanentemente sem fim verdadeiro. Sem darem sentido às suas vidas. E que elas vão muito rápido sem se colocar as questões essenciais: onde eu vou a esta velocidade? Por que fazer? O que eu procuro absolutamente obter? Quais são minhas prioridades? Será que esta corrida-perseguição desenfreada me levará à felicidade? etc. Então o sobredotado os deixa correr mas progride mais lentamente. Considerando o tempo do que ele considera como < verdadeiras > coisas. Ele pode atrasar-se na contemplação de uma paisagem, de uma obra de arte, de um espetáculo da natureza, da rua, dos homens. Ele pode se colocar numa discussão, num encontro que ele deseja viver plenamente. Ele pode sonhar com fantasia, nostalgia, jubilação, eventos passados ou projetos futuros. E tomar o tempo todo para isso. O tempo de viver talvez. Plenamente. Mas isto é, não está mais no tempo e ele observa chispar a plena velocidade, como na margem de uma autoestrada, esta via que ele aborda por um menor caminho.
O sobredotado raramente está no bom tempo e esta diferença procura uma desagradável sensação de estranheza e, paradoxalmente, de incompreensão do mundo. 
Uma diferença no tempo gera sempre problemas de comunicação com os outros: não se compreende, não se está sincronizado.
Não estar certo sobre o mesmo tempo: o grande malentendido com o mundo! >

Um pouco mais sobre o sobredotado.
A inteligência excessiva e atípica é um duplo mal: ela faz sofrer e ninguém não pensa a lastimar daquele que sofre. Pelo contrário, ela pode suscitar inveja e agressividade e ampliar assim o sofrimento. Não se dirá jamais de alguém: "Ele é simpático, mas, pobrezinho, ele é muito inteligente"!

Ele abandona e cada vez que ele visa um novo projeto, sua análise extralúcida os faz perceber as falhas e os limites. Então ele procura outra coisa. Um dia, em curso de sessão, ele me diz: < Como pode você me compreender já que você não é sobredotado? Você terá seus limites. Você pode compreender a teoria, mas não o que eu vejo. > Ufa, é preciso entendê-lo mesmo!.

.... esta idéia do sentimento de superioridade que se vivenciaria porque se é sobredotado martela tanto os espíritos... daqueles que não o são!
O que é verdade, no entanto, é que certos sobredotados < incham seu ego >. Eles desenvolvem uma personalidade que apareça suficiente, adotam este comportamento. Eles dão a imagem de pessoas que se pensam tão acima da massa. Mas não nos enganemos a respeito! O sobredotado que parece pretensioso é o mais vulnerável entre todos. Sua suficiência tenta esconder seu sentimento de profunda fragilidade. 
A lucidez sobre o mundo e sobre si abre as portas de uma compreensão chocante e afiada. A potência desta lucidez pode ser dolorosa mas ela é também a fonte de uma visão das coisas que se poderia finalmente qualificar de extralúcida.
Sua sensibilidade do mundo e de sua inteligência atípica! Que desperdício! ... cuja diferença suscita mais inveja do que compaixão, enfim todos os sobredotados que sofrem em silêncio não são jamais (muito raramente) levados em conta pela nossa sociedade do século XXI.

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Faz algumas vezes que ele vem me ver. Sua análise extralúcida os faz perceber as falha e os limites.  Um dia, em curso de sessão, diz: < Como pode você me compreender já que você não é sobredotado? Você terá seus limites. Você pode compreender a teoria, mas não o que eu vejo. > Ufa, é preciso o entender mesmo! 
A lucidez sobre o mundo e sobre si abre as portas de uma compreensão chocante e afiada. A potência desta lucidez pode ser dolorosa mas ela é também a fonte de uma visão das coisas que se poderia finalmente qualificar de extralúcida

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Trechos. Tradução da obra de J.S.-Facchin.

'Trechos.


(...) Atenção para não se deixar agarrar pelas representações dominantes. Como se a representação corrente de uma grande inteligência supusesse a obrigação de um grande destino. Isto não é uma crítica, é claro. Mas uma constatação. A explicação? O medo. Pois na sua leitura acelerada da vida, o adulto sobredotado se reconecta brutalmente a ele mesmo, a todas as questões meticulosamente abafadas. A resposta é mais sutil, mas complexa. Trata-se menos de fazer algo de diferente que de ser enfim si mesmo.

~ O BB, Brillant Bosseur, não é o sobredotado... É a origem da confusão. Pensar que aquele que tem êxito brilhantemente é forçosamente sobredotado. Então mistura-se duas características distintas. O Brilhante Hard-Working (B. Bosseur) é aquele que possui uma grande inteligência mas adaptativa. Uma forma de inteligência parecida àquela de todos. Somente diferente em quantidade e não em qualidade. O primeiro tem uma inteligência quantitativamente superior mas qualitativamente idêntica. De mais, com esta inteligência adaptativa, saberá otimizar trabalhando para fazer uma força de sucesso exemplar, no sentido mais clássico do termo.

Mas esses BBs se distinguem dos sobredotados pela sua facilidade de utilizar seu potencial cujas formas adaptadas convêm bem à nossa sociedade. De outro lado, a natureza da inteligência mais intensa, desenfreada, do sobredotado, torna seu mais difícil. Para ele, o combate é ele mesmo primeiro. É chegar a aprisionar, dosar, canalizar seu pensamento e sua compreensão tentacular do mundo em um curso linear e concentrado. Tudo apaziguando as asperezas as mais sensíveis e dolorosas de sua sensibilidade. É seu primeiro desafio. Depois, somente depois, ele poderá se interrogar sobre como fazer com o mundo?
~ 'L'émotion pour un surdoué s'insinue partout, tout le temps, dans les moindres interstices. Et quelquefois, on joue à l'adulte.'
O sobredotado é particularmente dotado na matéria: ele capta toda sorte de emoções, mesmo a mais tênue. Eles sabem antecipá-la. 
~ Todos os sentidos a serviço do prazer de viver. A hiperestesia redobra as possibilidades. A colocação em ação de todos os sentidos simultaneamente e sua notável capacidade de discriminação, dão ao sobredotado uma presença no mundo fora do comum. A hiperestesia amplifica todas as percepções. Ela permite criar o bonito lá onde outros não verão senão o banal. Ela ilumina o mundo pela densidade emocional que todos os sentidos proporcionam. A hiperestesia pode ser utilizada para capturar o ambiente e o magnificar. Utilizar todos os sentidos para abraçar o mundo. Tudo sentir pode ser um imenso prazer e a fonte de momentos mágicos de vida.
~ A sensibilidade poética e estética, culto ao Belo.
~ A hipersensibilidade invasiva. Sentir tão forte as emoções, a vida que vibra em torno de si. Tudo perceber, amplificado, aumentado, incontornável. Captar e registrar o mais ínfimo detalhe. Aquele tão insignificante, que não atravessou a barreira da consciência. Então, inchado de emoções, de sensações, a vida torna um relevo admirável, uma densidade rara. Intensa.
~ A incompreensão recíproca do mundo. Não se compreende os outros.. e somos incompreendidos. 
Como compreender o incompreensível? O sentido. Primeiro o sentido. Sempre o sentido. O motivo condutor do funcionamento do sobredotado, a procura obstinada e incoercível. A busca do sentido das coisas, do sentido preciso das coisas, absoluto. O risco? A procurar um sentido a tudo acaba-se por encontrar o absurdo, o não-sentido. O simples bom senso não tem mais curso. Então como compreender o incompreensível? E o sobredotado, decepcionado, não compreende mais. Retorna nas questões jamais resolvidas.
Compreender de outra forma produz bem estranhos malentendidos. Na sua vida profissional, é o leito de numerosas decepções e de malentendidos por vezes irreversíveis.
~ Na vida pessoal ou no universo profissional, esta inteligência singular, capaz de pensar um problema ativando simultaneamente representações múltiplas, alarga consideravelmente a compreensão e a análise. Cada problema pode ser estudado sob vários ângulos. Tudo será explorado. E, ao final, uma avaliação rara e exaustiva, um poder de reflexão fora do comum, uma visão esclarecida e potencial. Um imenso trunfo a utilizar sem moderação!
~ A evasão pelo pensamento. O mais frequente é falar disso como uma crítica. Critica-se, na infância e mesmo no adulto, evadir-se no pensamento. Pode-se compreender que este funcionamento possa ser irritante ou perturbador em certas situações. Mas é também uma maneira muito útil de utilizar os recursos de pensamento. O imaginário rico alimentado pela memória, a exarcebação de todos os sentidos e as capacidades de associação podem fabricar um sonho suficientemente forte para vos extrair momentaneamente e vos alimentar. O corpo resta lá mas o espírito se destaca e todo nosso ser, físico e psíquico, participa da viagem. Um verdadeiro prazer. Uma verdadeira regalia para todos os sentidos e em todos os sentidos. Um pleno de energia. 
~ Confunde-se, na realidade, sucesso, aquele comumente admitido por todos, e sentimento de sucesso, que escapa às regras estabelecidas. O sentimento de sucesso é íntimo, pessoal, resulta de uma alquimia sutil. Experimentar o sentimento de ter êxito em sua vida é independente do ambiente.
Para o sobredotado, preso a múltiplas interrogações, a uma colocação em questão incessante, como pensar o sucesso? Pode-se somente o pensar? Para o sobredotado, isto não pode ser senão um sentimento flutuante, instável.
Para o sobredotado, ter sucesso, é possível? Não como ele gostaria. Jamais à altura do ideal que ele tem da vida e de si mesmo. Para ele, obter êxito, é fazer avançar a humanidade, o mundo. Não se trata de um sucesso profissional clássico. Não é perfeitamente isto para um sobredotado, mesmo se ele participa disto. Ele vive com uma visão mais transcendental do sucesso. O sobredotado está raramente satisfeito. A imagem do sucesso que ele pode por vezes dar não está jamais sincronizado com sua visão do mundo. 
"Meu projeto, você irá certamente zombar de mim, confessa-me Julien, seria de ajudar a humanidade a melhor viver." Ainda encontra-se murmurando, consciente da megalomania de seu desejo, que o que desejaria, seria ser como Jesus ou Buda para transmitir uma mensagem ao mundo e fazer profundamente evoluir os homens.
Vê-se o abismo que separa o que aparece da realidade e o sonho grandioso. Mas que incomoda, sempre, o sobredotado. Mesmo quando ele não diz nada e que parece tão arrumado numa vida clássica de felicidades simples e no sucesso complacente. Não se enganem: no fundo de si, o projeto insensato continua a murmurar.
~ Quando o tempo não está sincronizado com o que se vive: não poder aproveitar as coisas. É uma combinação da falha espaço-temporal e da diferença do tempo: o sobredotado tem dificuldade de estar totalmente no que ele faz, no que ele vive. Seu pensamento o conduz a analisar seu presente em lembranças ou num passado mais amplo, mas também a se projetar num futuro onde ele se recordará do que ele está em forma de viver no aqui e agora. 
~ A falha espaço-temporal: Viver em vários espaços-tempos. Isto se complica ainda. O sobredotado se sente multi-idade, mas ele se situa igualmente em vários espaços-tempos: passado-presente-futuro. Tempo do vivido individual, mas que é também recolocado no contexto do espaço-tempo do universo. Impossibilidade do sobredotado de se desatar do contexto. Sua existência, sua razão de ser e de viver é dependente dA Vida, ocm um A e um V maiúsculos. Sua vida é ligada ao sentido do munod. Mesmo se o sentido lhe escapa, ele não pode se considerar como isolado do resto. Toda sua vida pessoal é perpetuamente colocada em perspectiva à escala do universo. Para o sobredotado, somente esta perspectiva universal e intemporal pode ter sentido e dar sentido à vida comum de cada um. 
~ Aquele que tem a idade do mundo. Mas eis outra face inesperada. A parte infantil do sobredotado, smepre muito presente, costeia uma outra percepção: se sentir multi-idade. A sensação, segundo as circunstâncias, os contextos, as pessoas com as quais se encontra, de ter simultaneamente ou sucessivamente níveis de maturidade diferentes.
(...) Atenção, eu não estou em vias de dizer que o sobredotado é todo-poderoso e onipotente. Mas eu digo que seu modo de funcionamento, sob as versões intelectual e afetiva, dão a ele uma hipermaturidade muito característica. Uma criança hipermadura! A hipermaturidade deve ser aqui compreendida como esta capacidade única de analisar com uma lucidez exemplar todas as componentes de uma situação e aí se adaptar. Ou lutar contra, o que torna-se o mesmo em termos de mecanismo.
Os adultos sobredotados partilham uma característica perfeitamente surpreendente e entretanto bem escondida: uma parte infantil ainda muito presente. Então, algumas vezes, brinca-se de adulto, dá-se ares de adulto... tudo sonhando como uma criança!
O mais frequente, a criança sobredotada cresceu sabendo. Sua capacidade de sentir o outro, os outros, sua receptividade emocional, suas capacidades de percepção e de análise tinham enviado a ela a mensagem: atenção, ilusão! Ela adquiriu muito cedo a certeza que ser adulto não está conforme às imagens que estes últimos tentaram mostrar.
~ Toda a sua hipersensibilidade à disposição do prazer de viver!
~ A lucidez estonteante. como viver com esta lucidez que inunda tudo que o cerca. Não identificada nos manuais de psicologia. Que escruta o menor recanto. Uma lucidez que penetra o mais profundo do outro. A lucidez do sobredotado é tanto mais potente quanto ela se alimenta de uma dupla fonte: a inteligência aguçada que disseca e analisa, a hiper.receptibilidade emocional que absorve a mais ínfima partícula de emoção ambiente.
~ Todo o funcionamento intelectual e afetivo aguça os contornos, desde criança, claro.
~ etc.
tradução Viviane Anetti (J.S.-Facchin, autora francesa)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Bonjour, 

Si, pour les jeunes HP, la scolarité est rarement "un long fleuve tranquille", la vie professionnelle offre tout autant de défis qu'il faudra relever pour s'épanouir dans le monde de l'entreprise. 

D'où viennent le stress, l'ennui, la difficulté à se conformer aux attentes de la hiérarchie? 

Le burn-out guette-t-il tous les HP? 

Dans une période où on s'estime souvent déjà heureux d'avoir un emploi, a-t-on le droit de faire la fine bouche? De vouloir trouver "le" job qui nous convienne? 

La conférence sera donnée par Thierry Biren, coach HP et président de douance.be

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

avantage ou handicap?

Les enfants précoces ne sont pas toujours les petits prodiges que l’on croit même s’ils développent de nombreux talents. Ce ne sont pas des êtres pour qui tout est plus facile, mais au contraire, des enfants fragiles que leur différence rend plus vulnérables. A l’heure où nombre de parents entretiennent le mythe de « l’enfant parfait », enquête sur le phénomène des « surdoués ».
V.: http://les-tribulations-dun-petit-zebre.com/2015/01/01/enquete-precocite-surdoue-avantage-ou-handicap-intelligence-magazine-janvier-2015/


Les enfants précoces ne sont pas toujours les petits prodiges que l’on croit même s’ils développent de nombreux talents. Ce ne sont pas des êtres pour qui tout est plus facile, mais au contraire, des enfants fragiles que leur différence rend plus vulnérables. A l’heure où nombre de parents entretiennent le mythe de « l’enfant parfait », enquête sur le phénomène des « surdoués ».
Le terme le plus utilisé aujourd’hui est plutôt précoce que surdoué, ce qui remet les choses un peu en équilibre vis-à-vis des autres enfants.
DE LA PRÉCOCITÉ…

La définition de cette précocité est bien entendu le fait que l’enfant est en avance d’une, voire de plusieurs années par rapport aux enfants du même âge que lui. Un des premiers signes est que la plupart ont envie d’apprendre à lire avant l’école et parviennent en général à le faire avant même d’avoir commencé le CP.

-- Depuis 2009, tranches de vie de notre famille atypique, & pistes (toutes personnelles) permettant de mieux comprendre ce qu’est le surdouement ◕‿◕