segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Como denominá-lo? A grande questão.

Intelectualmente precoce? Não é o fato de que eles possam estar 'em avanço' é que faz a diferença de funcionamento.
Sobredotado? Imediatamente entende-se alguém mais dotado que, mas também de dom de nascença. E que supõe que se saiba efetivamente dotado em alguma coisa, senão como se reconhecer neste termo? Complicado para uma criança ouvir dizer que ela é sobredotada quando isto não corresponde em nada ao que os outros pensam dela nem ao que ela sente nela mesma de suas possibilidades.
E para o adulto? Como se pensar sobredotado?
Atualmente, diz-se HP, alto potencial (haut potenciel), ou HQI, alto QI, como se a sigla pudesse suavizar o que o perturba.
Ser sobredotado supõe-se que se deva fazer algo de grande, de bem-sucedido. Senão se o desperdiça? A culpa ronda...
Uma inteligência fora da norma.

Estas esquisitas 'zebras'

Eu continuarei então a preferir a zebra, esta terminologia que eu escollhi para liberar-se das representações pesadas. A zebra, este animal diferente, este equestre que é o único que o homem não pode aprisionar, que se distingue notadamente dos outros na savana, utiliza suas listras para se dissimular. As zebras são únicas e lhes permitem reconhecer-se entre elas. Eu continuarei a defender essas pessoas 'listradas' como se estas zebruras evocassem também golpes de garra que a vida lhes poderia dar. Eu continuarei a explicar a elas que suas listras são também formidáveis particularidades que podem salvá-las de um grande número de armadilhas e perigos. Que elas são magníficas e que elas podem estar confiantes. Serenamente.
Zebra, como de A até Z, como Zorro que vem fazer justiça, sempre e por todo lugar, ou ainda a ligação que lembra que são Z'emotivos, Z'errantes, Z'insubmissos, Z'ermitões, ...
Viagem no cérebro dos sobredotados... onde se descobre a explicação de suas particularidades de viver e de pensar. Organização cognitiva particular.
E não é o número de neurônios que conta, é o número de conexões. E a ligação neurológica, intrínseca com as emoções, a afetividade.

domingo, 25 de setembro de 2011

Superioridade

Quando se é sobredotado, não se sente jamais, então jamais, superior aos outros. E, entretanto, esta idéia do sentimento de superioridade que se vivenciaria porque se é sobredotado martela tanto os espíritos... daqueles que não o são!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A criança sobredotada foi terapeuta para seus pais.

Preenchendo as faltas afetivas de seus pais, a criança dotada torna-se expert para decodificar os sentimentos dos outros e isto lhe interessa pois isto sempre constitui para ela um “modo de ser”. A criança dotada foi geralmente criança terapeuta para seus pais.
A criança sobredotada percebe a si mesmo como diferente sem compreender porque ela não chega a ser, pensar, compreender, sentir como os outros. Ela tenta frequentemente, faz tentativas para se conformar, se adaptar, se ajustar. Mas isso lhe exige muita energia. Sua adaptação não é natural, espontânea, evidente. Ela se vê viva ainda que não viva. Isto funciona por vezes, ela se integra, cresce com os outros apesar deste deslocamento persistente e incompreensível para ela, mas por vezes também isso fracassa e a solidão a recaptura. Ela tem uma convicção íntima e persistente que alguma coisa a escapa, mas o quê! Tanto mais quanto mais seus esforços para ser aceita como idêntica, parecida, foram sustentados.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Deslocados

Em avanço sobre seu tempo. Ter idéias revolucionárias, é bom, mas é preciso fazê-las passar, justificando-as. Mais difícil.
Compreender antes e melhor do que aquele "suposto saber" pode se revelar dramático na empresa... Pode-se multiplicar os exemplos ao infinito. Todos estes momentos de vida e finalmente desconfortáveis.
O atraso é uma outra forma de deslocamento. Uma nobre forma. Desta vez aqui é a hiperconscientização da vida que não coloca o sobredotado no mesmo tempo. Para ele, alguns conferem uma importância desmesurada a valores que para ele parecem tão subsidiários. O sobredotado deixa os outros 'correrem', mas progride mais lentamente. No tempo relativo ao que ele considera as verdadeiras coisas.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O pavor

O medo do sobredotado toma uma outra forma do comum das pessoas: do que o sobredotado tem mais medo, é dele mesmo. ele tem medo de seu pensamento que pode levá-lo às profundezas assustadoras, ele tem medo de suas emoções que o invadem de maneira incontrolável, ele tem medo dos outros dos quais ele se sente ao mesmo tempo tão diferente e entretanto tão parecido, ele tem medo da vida que não saberá dominar. Ele tem sobretudo medo de se achar em face de si mesmo e de não amar o que ele é. De se decepcionar. Ou de se dar conta que ele se enganou. que o que ele se tornou não lhe convém. Que suas escolhas não eram boas.
Na realidade, o sobredotado tem terrível pavor deste confronto íntimo.

Este medo pode adquirir outra face também: o perfeccionismo.
A sede de absoluto, do 'perfeito', pode ter efeitos perversos: a incapacidade de empreender. Apesar de suas imensas capacidades intelectuais e sua rica personalidade, o sobredotado estagna.

Parecidos, mas diferentes

Pode-se encontrar nas linhas que se seguem modos de funcionamento que encontram-se em outros perfis de personalidade. É verdade. Mas o que é específico no sobredotado, como sempre, é a intensidade de cada uma dessas expressões de si. E o sofrimento que aí pode ser associado. A frequência da aparição dessas características de personalidade permite identificar este grupo, distinto entre os outros, que compõem os adultos sobredotados. Nem inteiramente parecidos, nem completamente diferentes...
E o sobredotado pergunta a um eventual psicólogo: "Como você pode me compreender já que você não é sobredotado? Você terá seus limites. Você pode compreender a teoria, mas não o que eu vejo". Ufa! É preciso entendê-lo mesmo!

domingo, 17 de julho de 2011

Enfim, e sobretudo!

E sobretudo, sobretudo, guarde preciosamente vossa alma de criança, vossa ingenuidade refrescante, vossa criatividade fulgurante, vossa sensibilidade transtornante, vossa curiosidade sempre em alerta, vossa inteligência efervescente. Guarde todos estes tesouros que fazem de você um adulto decididamente diferente. Um adulto que não se tornará jamais uma "grande pessoa"!

conexão com as emoções

'É preciso que eu esteja conectado com as minhas emoções para poder dizer as coisas. Se me pedem num segundo momento minha idéia sobre qualquer coisa, eu não sei mais, pois eu não estou mais conectado com a alquimia de meu pensamento.', diz um sobredotado.
A impossibilidade de dizer sem estar totalmente conectado ao seu pensamento, aqui e agora do que se deseja exprimir.

domingo, 1 de maio de 2011

O tempo: estar sempre deslocado

O sobredotado raramente está no tempo certo e esta diferença gera uma desagradável sensação de estranheza e, paradoxalmente, de incompreensão do mundo.
Uma diferença no tempo gera sempre problemas de comunicação com os outros: não se compreende, não se está sincronizado.
Não estar certo sobre o mesmo tempo: o grande malentendido com o mundo!
(Este tema deverá ser posteriormente bem explicado, estendido, para melhor compreensão do assunto.)

Os mitos têm a vida dura


“Aqueles que pensam que a inteligência tem alguma grandeza não têm certamente o bastante para se ter em conta que não é mais do que uma maldição.” (Martin Page, 'Como me tornei estúpido.' Le Dilettante, 2000)

Diz a autora: "Como é possível ignorar que a inteligência excessiva é forçosamente anxiogênica e que ela gera uma sensibilidade, uma lucidez, uma maneira de ser no mundo que marca o conjunto da personalidade?
Como recusar reconhecer as singularidades de funcionamento e de adaptação desses 2% da população que se situam em simetria daqueles cuja deficiência intelectual é objetivável? Isto voltaria a dizer que se pode aceitar e integrar que a limitação intelectual tem seus incidentes sobre o funcionamento da personalidade e sobre a adaptação social, que os deficientes devem ser ajudados e acompanhados, que as medidas profiláticas e pedagógicas devem ser avistadas, mas que, do outro lado da curva não se passa nada. É o vazio, isto não existe. É justamente a inteligência "de mais", portanto nenhuma razão em se preocupar. Nenhuma razão de levar em conta todas as singularidades e as dificuldades de adaptação que esta inteligência excessiva gera. Isto me deixa verdadeiramente, verdadeiramente em cólera.
Mas eu sou honesta ou, talvez, se eu procuro me tranquilizar, constata-se que a "debilidade" levou muito tempo a ser aceita. É verdade que foi preciso muitos decênios para que se compreendesse que a deficiência intelectual notava-se no deficiente mental e que era indispensável de levar isso na plena medida. Então talvez seja preciso esperar que as mentalidades evoluam, que as neurociências acelerem mais seus prodigiosos avanços, que certos clínicos atualizem seus conhecimentos para que, enfim, os sobredotados sejam compreendidos e ajudados nas suas fragilidades que lhes são específicas. Como todos aqueles, quaisquer que sejam as razões, que têm necessidade de que se os ajude a aliviar seu sofrimento. Como todos aqueles para os quais nossa profissão de clínico consiste em acompanhá-los em direção a seu pleno desabrochamento."

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Quando se é sobredotado, não se sente jamais, então jamais, superior aos outros. E, entretanto, esta idéia do sentimento de superioridade que se vivenciaria porque se é sobredotado martela tanto os espíritos... daqueles que não o são!
conexão com as emoções
'É preciso que eu esteja conectado com as minhas emoções para poder dizer as coisas. Se me pedem num segundo momento minha idéia sobre qualquer coisa, eu não sei mais, pois eu não estou mais conectado com a alquimia de meu pensamento.', diz um sobredotado.
A impossibilidade de dizer sem estar totalmente conectado ao seu pensamento, aqui e agora do que se deseja exprimir.
O tempo: estar sempre deslocado
O sobredotado raramente está no tempo certo e esta diferença gera uma desagradável sensação de estranheza e, paradoxalmente, de incompreensão do mundo.
Uma diferença no tempo gera sempre problemas de comunicação com os outros: não se compreende, não se está sincronizado.
Não estar certo sobre o mesmo tempo: o grande malentendido com o mundo!
orma atípica de funcionamento intelectual. Levar em conta este funcionamento sob duas versões: intelectual e afetivo. Planos afetivo e cognitivo. Estão intrincadas.
Esqueçamos de imaturidade, e falemos de hipermaturidade. O sobredotado é um ser profundamente afetivo. Eis o que lhe dá por vezes este qualificativo de imaturo.É um camaleão, para ajustamento às pressões do ambiente. Ele joga com sua inteligência e sua sensibilidade para sua adequação ao mundo.
Pode ser deprimido, pois tenta ser no exterior diferentemente do que vive no seu interior, por medo de ser rejeitado.
Ingenuidade marcante, expressão da credulidade. Ele crê no maravilhoso, no mágico.
O entusiasmo, uma imensa energia a consumir sem moderação.
Hiperativação cerebral: tempestade sobre um crânio.
Sintaxe correta, vocabulário rico e elaborado, desde muito cedo em idade. Borbulhamento cerebral difícil a canalizar.
Todas as informações são tratadas ao mesmo tempo e no mesmo nível de importância, e tem-se a impressão de perder as idéias essenciais. As conexões não são tratadas numa zona cerebral distinta (o que se observa atualmente com as localizações funcionais).
Quando se tenta agarrar uma idéia, ela já está muito longe e outras centenas surgiram. Como, enfim, liberar-se da carga emocional que se ativa no mesmo ritmo que os neurônios e que provoca o pensamento nas zonas ainda mais longínquas?
Sempre dependente do contexto afetivo, não podem funcionar sem levar em conta a dimensão e a carga emocionais presentes. Estilo cognitivo diferente, que não tem a mesma eficácia intelectual e tem um vínculo com o traço de personalidade.
Sendo o contexto carregado de informações, em particular emocionais, ele não chega a canalizar sua atenção. Ele se coloca em 'modo vigia' e não permite entrar em seu cérebro senão o mínimo de informações vitais... Neste momento, tem-se a impressão de que ele não escuta, de que ele não está lá! Por vezes, prejudicial para ele e muito provocante para o meio. Ele está em modo econômico! Então, para se fazer entender, será preciso repetir um grande número de vezes!
Do muito pensar à impulsividade: uma particularidade de funcionamento na origem de conflitos inúteis.
Insatisfação crônica do sobredotado. Necessidade de mudar constantemente de profissão, sem jamais verdadeiramente encontrar o seu lugar. Como decidir e não renunciar? Nas entrelinhas se desenha uma forma de sentimento de tudo-poder: eu gostaria de tudo fazer! Fonte de sentimento que não o deixa jamais em paz. Tudo é constantemente repensado e colocado em questão. Uma armadilha desta singular forma de pensar, sem relaxamento.
Tédio. Para o sobredotado, é necessário que a vida seja sempre brilhante, fatos de novos acontecimentos, emoções fortes, alegrias intensas, êxitos sublimes... Com o coração e a cabeça, com o desejo no ventre. Tudo com o mesmo objetivo, o único válido para o sobredotado: um objetivo profundamente humanista.
Hiperatividade (ou mais adequado, sobreatividade, para naõ confundir com a patologia denominada hiperatividade): a outra face do tédio.
Impaciente de esperar os outros. A impaciência é tão penosa a suportar com todo seu cortejo de sensações físicas e psíquicas, mas tb com todas as críticas, os ataques que ele suscita. Eis o risco: desinvestir. Torna-se passivo. Não implicado. Ele não tem mais opinião. Retiro pensalizante.
Encontra-se constantes: a instabilidade amorosa.
Necessidade de estimulações amorosas constantes. O que o motiva: se sentir livre! São escapatórias ao tédio existencial.
O sentimento do outro: muito próximo do que vive o outro, na sua impotência de ajudá-lo, o sobredotado se afasta. Tenta bloquear ao máximo toda receptividade emocional para não mais sentir. Uma forma de sobrevivência... jamais uma falta de compaixão.
A inversão: não sentir mais nada.
A imensa solidão: nascida dessa distância sempre sentida entre si e o mundo, entre si e os outros. O sobredotado, de sua torre de controle, observa as falhas, as fragilidades, os limites...
Um engajamento absoluto. O sobredotado investe a fundo no outro, na relação, na confiança. A noção de amigo é uma noção absoluta.
- Singularidades nos processos neurofisiológicos da percepção sensorial.
- Tentar comunicar-se, enquanto não se funciona segundo os mesmos processos.
- A criança sobredotada, mesmo acabando silenciosa, tem necessidade de ser perpetuamente tranquilizada. Funcionamento fora das normas escolares.
- Relação com o mundo sempre singular.
- Vive ataques injustificados, desde criança, sobretudo na escola.
- Um déficit de inibição latente que obriga o sistema cerebral a integrar todas as informações provenientes do exterior sem uma seleção prévia. Ele tem a cabeça cheia.
- A precisão absoluta é fundamental, compreensão literal das coisas. É preciso explicar o contexto para que ele compreenda. Senão ele não compreende, ou compreende de outra forma. Aqui está a fonte de malentendidos penosos. No meio profissional, relação de forças se entabula com um patrão ou colaborador.
- Dificuldade de referências identificatórias, e quando criança se constrói geralmente sozinho.
- Sente-se todo-potência, e por outro lado, frágil e vulnerável.
- A impossível certeza: cada nova resposta atrai uma nova questão. Então, a dúvida é permanente e sobre todos os assuntos. Este modo de funcionamento acarreta uma forte problemática em torno da escolha. Escolher é renunciar... E os outros insistem na idéia de que não há mais a escolha de... não escolher!
Compreende-se o quanto a inteligência é ansiogênica.
- A resistência ao sentimento amoroso é muito forte, e deve-se ao medo. Medo de soltar todos os diques, de revelar sua vulnerabilidade e sensibilidade, de sofrer.
Única saída: sabotar a inteligência. Trata-se realmente de um ataque de si, de um retorno agressivo contra si mesmo.
A inibição intelectual lhe permite igualmente se recobrir com uma máscara de pseudo-debilidade que o ajuda a passar despercebido.
As faíscas de pensamento reacendem esta vivacidade intelectual sempre intacta e a qual, apesar de tudo, o adulto sobredotado continua a se conectar. Em segredo.
O atraso é uma outra forma de deslocamento. Para ele, alguns conferem uma importância desmesurada a valores que parecem a ele tão subsidiários, que estes sejam valores de sucesso, de dinheiro, de bens materiais.
Deseja ser verdadeiramente compreendido pelo que se é e ser aceito nas suas singularidades. Isto supõe um ajustamento constante.
Ficou constatada a quase-invisibilidade destes alunos na sala de aula, dentro de suas próprias famílias e, inclusive, para eles próprios. Existem fatores que impedem seu reconhecimento e atendimento na sala de aula e outros ambientes sociais ou laborais. Um desses fatores é o desconhecimento e a falta de valorização (ou a supervalorização) das características e comportamentos destas pessoas, o que significa a negação de suas necessidades enquanto sujeitos aprendentes, que juntamente com os mitos populares existentes numa sociedade que procura a 'normalidade' e a regra, mitos de igualdade impostos, geram inaceitação que se refletem em todo o ambiente no qual a pessoa sobredotada vive.
Quando é reconhecida, pode gerar medo, ódio, inveja ou supervalorização, por manter-se a ideia que, por ser SD, não precisa de atenção.
Em ambientes socioeconômicos e culturalmente desfavorecidos, encontra-se ainda o que Guenter (2006) denomina de Impotência Aprendida, que faz com que as SD se sintam incapazes de dar respostas adequadas às demandas das estruturas de poder porque o que elas produzem, pensam ou dizem, mesmo quando são produtos ou ideias dignos de destaque, não são reconhecidos como indicadores de uma capacidade superior, mas considerados como uma exceção ou atribuídos à sorte, ao acaso, a alguma ajuda humana ou supra-humana.
O mesmo acontece nos ambientes laborais, nos quais a pessoa sobredotada geralmente desenvolve tarefas ou atividades rotineiras, que estão aquém a sua capacidade de desempenho.