sexta-feira, 25 de março de 2016

Surdoué, une intelligence paradoxale & complexe.
A falha espaço-temporal:
viver em vários espaços-tempos
Isto se complica ainda. O sobredotado se sente multiidade, mas ele se situa igualmente em vários espaços-tempos: passado-presente-futuro. Tempo do vivido individual, mas que é também recolocado no contexto do espaço-tempo do universo. Tomar uma decisão no aqui e agora torna-se muito difícil por este levar em conta o antes, o depois, mas também o outro lugar. A perspectiva de si é muito diferente pois relativizada na escala do tempo e do espaço.
Isto corresponde à impossibilidade para o sobredotado de se desatar do contexto. Sua existência, sua razão de ser e de viver, é dependente dA Vida, com um A e um V maiúsculos. Sua pequena vida é religada ao sentido do mundo. Mesmo se o sentido o escapa, ele não pode se considerar como isolado do resto. Toda sua vida pessoal, insignificante, é perpetuamente colocada em perspectiva à escala do universo. Para o sobredotado, somente esta perspectiva universal e intemporal pode ter sentido e dar sentido à vida comum de cada um.
É evidente que esta visão das coisas, de sua vida como de si, engendra interrogações de respostas impossíveis. E que elas levam, inexoravelmente, a abismos de angústia sem nome.
Para um sobredotado, existe assim raramente um acordo íntimo entre o que ele é e o que ele faz. Persiste uma distância, tão ínfima seja ela, que cria certo desconforto que conduzirá seja à ultrapassagem de si, seja a uma aceitação obrigada, fonte de frustração.
Para se liberar, alguns sobredotados vão pegar o contra-pé: em sobreestimando sua importância e sua vida, eles tentam desafiar questões que os atormentam. Elas estão sufocadas, ele não as entende mais, preocupado que ele está de magnificar sua existência e sua pessoa. Não nos enganemos. É uma hipocrisia. Útil por vezes, pois protetora. Frágil sempre, pois não colocando jamais ao abrigo de um tremor interior ou de uma sacudida exterior que fará remontar ao mais profundo de si mesmo a essência mesmo de seu ser.
O tempo:
estar sempre deslocado
O tempo fala de movimentos. De ritmo. No sentido onde certos movimentos são mais rápidos que outros. Que movimentos mais lentos sucedem os ritmos acelerados. Estar no tempo, é estar no movimento da vida, calçado no mesmo ritmo que todo mundo.
O tempo é o problema central do sobredotado: ele não está jamais no bom tempo! Ele não está jamais sincronizado com o movimento geral. Ele está em diferença permanente: em avanço, ou não-atividade. Em atraso, ou parado.
• Em avanço, ele vai geralmente muito, muito mais rápido. Para perceber, para analisar, para compreender, para sintetizar. Abraçando um perspectiva ampla todos os dados de um problema, de uma situação. Por intermédio de seus sentidos sempre em alerta e que captam, tratam, integram os menores detalhes presentes. Dotado daquela empatia que confina às vezes tanto ao masoquismo as emoções dos outros vividas por procuração... Então, o sobredotado tem uma perspectiva visionária: ele dá o resultado quando os outros arrancam, ele compreende quando a formulação da questão não terminou, ele sabe o que fazer ao passo que cada um interroga, ele vai muito rápido! O ritmo dos outros parecem a ele nestes momentos a uma velocidade reduzida. O movimento da vida parece a ele dormente.
Um avanço que o estorva pois ele está frequentemente sozinho sem ninguém com quem partilhar. Um avanço que o obriga a esperar, a ver os outros fazerem, a encontrar seus passos falsos ao passo que ele já o sabe. Mas o que dizer, como dizer em permanência o que é preciso fazer e como o fazer sem passar por um ser orgulhoso e convencido? Sem passar por aquele a quem se diz: “De toda maneira, você tem sempre razão.” Mas nesta frase muito de agressividade escondida, de rivalidade, de inveja, de ciúmes. De irritação também.
A duração do avanço do sobredotado pode se revelar num grande número de setores da vida pessoal ou profissional. Em avanço sobre os outros, em avanço sobre seu tempo, em avanço em sua vida. Ter idéias revolucionárias, é bom, mas é preciso as < fazer passar > em as justificando. Mais difícil. Saber, antes que outro tenha acabado, o que ele vai dizer, irritante para aquele que fala, que se sente violado na sua intimidade. Compreender antes e melhor que aquele < suposto saber > pode se revelar dramático na empresa... Pode-se multiplicar os exemplos ao infinito. Todos estes momentos de vida < deslocados > e finalmente desconfortáveis. Estar em avanço, por que fazer?
• Imobilizado ou em não-atividade: são todos estes momentos onde a hiperpercepção do ambiente pode colocar em epígrafe um minúsculo detalhe sobre o qual o sobredotado fixa sua atenção. Ao passo que os outros continuam a avançar, que o ritmo da discussão prossegue, que a vida caminha, o sobredotado, ele, fica imobilizado. Cativo. Este ínfimo detalhe que não interessa a ninguém, que ninguém mesmo o reparou, a ele parece de uma importância capital. Para ele, se se não leva em conta esta pequena parte do problema, da situação, não se chega a um resultado satisfatório. Passa-se de lado. Então ele para, examina, reflete, tenta integrar este segmento do real. Os outros estão longe, ele está sempre lá.
• O atraso é uma outra forma de deslocamento. Uma nobre forma. Desta vez aqui é a hiperconscientização da vida que não coloca o sobredotado no mesmo tempo. Para ele, alguns conferem uma importância desmesurada a valores que parecem a ele tão subsidiários. Que estes sejam valores de sucesso, de dinheiro, de bens materiais. Ele tem por vezes a impressão que numerosas pessoas correm permanentemente sem fim verdadeiro. Sem darem sentido às suas vidas. E que elas vão muito rápido sem se colocar as questões essenciais: onde eu vou a esta velocidade? Por que fazer? O que eu procuro absolutamente obter? Quais são minhas prioridades? Será que esta corrida-perseguição desenfreada me levará à felicidade? etc. Então o sobredotado os deixa correr mas progride mais lentamente. Considerando o tempo do que ele considera como < verdadeiras > coisas. Ele pode atrasar-se na contemplação de uma paisagem, de uma obra de arte, de um espetáculo da natureza, da rua, dos homens. Ele pode se colocar numa discussão, num encontro que ele deseja viver plenamente. Ele pode sonhar com fantasia, nostalgia, jubilação, eventos passados ou projetos futuros. E tomar o tempo todo para isso. O tempo de viver talvez. Plenamente. Mas isto é, não está mais no tempo e ele observa chispar a plena velocidade, como na margem de uma autoestrada, esta via que ele aborda por um menor caminho.
O sobredotado raramente está no bom tempo e esta diferença procura uma desagradável sensação de estranheza e, paradoxalmente, de incompreensão do mundo.
Uma diferença no tempo gera sempre problemas de comunicação com os outros: não se compreende, não se está sincronizado.
Não estar certo sobre o mesmo tempo: o grande malentendido com o mundo!

Parte infantil; ingenuidade; entusiasmo

A PARTE INFANTIL
Os adultos sobredotados partilham uma característica perfeitamente surpreendente e entretanto bem escondida: uma parte infantil ainda muito presente. Pronta a se ativar à menor solicitação. Coberta no fundo da "grande pessoa", mas extremamente viva.
A parte infantil é o que resta da magia da infância: o sonho, a criatividade, a certeza que tudo é possível. A capacidade de se maravilhar, sobretudo. A capacidade a ser submergido por uma alegria profunda. Por um nada. Um todo pequeno nada. Mas também a ser nocauteado pela menor injustiça, o mais ínfimo sofrimento: um animal ferido, um velho que tem dificuldade a se levantar, a criança que cai enquanto ela estava tão confiante de seus primeiros passos...
Dizer de alguém que tem atitudes infantis é uma crítica por vezes violenta e sarcástica de parte dos adultos petrificados nas suas certezas tranqüilizadoras e que se obrigam a não adotar senão comportamentos sociais comumente aceitáveis; seria uma reprovação em forma de pesar desta parte da infância que não se ousa mais sentir?
A INGENUIDADE, EXPRESSÃO DA CREDULIDADE
É uma das grandes particularidades deste adulto sobretado: ele continua a crer, como uma criança. Ele crê no maravilhoso, no mágico. Na vida, nos encontros, nas possibilidades. Sua ingenuidade o torna pronto a tudo crer e a se encontrar muito rápido submergido pelo o que isto acarreta. As lágrimas nos olhos vêm rapidamente. Entretanto, ele se abstém, ele se comporta como "grande pessoa", séria, reflexiva.
Mas ele guarda, escondida, uma alma de criança.
O ENTUSIASMO, UMA ENERGIA IMENSA
Maravilhar-se mesmo sobre coisas que já se conhece. Este é um trunfo incrível. Contrariamente ao que se poderia pensar, é uma qualidade rara, muito pouco frequente. Este entusiasmo que se pode sentir enquanto ninguém se anima é uma energia excepcional. Que pode mudar completamente a vida. A consumir sem moderação!

Mais um pouco do complexo e delicado funcionamento


Estas 'esquisitas' e lindas pessoas existem.
Infelizmente, preciosidades desperdiçadas.
E, por tal razão, sinto muito, tenho que expressar um pouco disso tudo, mesmo que a maioria não compreenda, e mesmo que desperte no entorno mais escárnio, estranheza, etc.
Mas, e sobretudo, o que eu poderia colocar no fim do texto, coloco agora, para esta pessoa 'diferente': guarde preciosamente vossa alma de criança, vossa ingenuidade refrescante, vossa criatividade fulgurante, vossa sensibilidade transtornante, vossa curiosidade sempre em alerta, vossa inteligência efervescente. Guarde todos estes tesouros que fazem de você um adulto decididamente diferente. Um adulto que não se tornará jamais uma "grande pessoa"!

"Eu não saberia expressar meu alívio de me saber normal, eu que sempre vivi como deslocada, inadaptada, inapta. Eu pude enfim colocar as palavras sobre meus males, e, se eu não sou livre, eu me sinto liberada." "Eu terei perdido minha vida? Como compensar?", e resposta: Revisitar sua história à luz deste novo esclarecimento. Reorganizações profundas.
Há tipologias dentre os sobredotados, apenas para colocar pontos de referência.

Adultos que guardam este modo de funcionamento tão particular que os distinguem. Eles mesmos percebem, sem saber nomeá-lo, os outros sentem, mas o atribuem a um traço de caráter, a uma originalidade, à personalidade "marginal", ou muito sensível de seu amigo... O adulto se acha assim pego, e desde sempre, num sistema de espelhos que refletem imagens de si mesmo multiformes e frequentemente deformadas.
Esse adulto tem necessidade de compreender quem ele é, como ele funciona, porque se o ama, porque ele é rejeitado, quais seus verdadeiros limites.
Alguns, jamais descobertos, vivem à margem.
Sua aflição singular não pode escapar aos clínicos de audição exercida e experta. O número de adultos sobredotados em ruptura com a vida e em sofrimento psicológico por vezes severo é elevado e convém considerá-lo em tal medida. Confiados aos profissionais não experts, ou, pior ainda, rejeitando o diagnóstico, eles se verão precipitados nas suas 'peregrinações' diagnósticas e terapêuticas que não farão mais que acentuar sua doença e seu profundo sentimento de solidão e de incompreensão.
Inteligência qualitativamente diferente.
Dizer ou não dizer? Poucos dos outros que lhe ouvem saberão integrar todas as nuances. Risco de zombarias e escárnios.
Ser sobredotado é uma imensa força, uma riqueza incrível, e se e somente se, se conhece-se bem as diferentes facetas, as armadilhas, mas também os recursos infinitos.
É uma força frágil, um objeto hightech.
Inteligência aguçada, os efeitos podem ser dolorosos.
A lucidez estonteante cria um verdadeiro transtorno, não identifica nos manuais de psicologia, e, perto da vertigem, do sofrimento, sempre. Todos os adultos sobredotados explicam o quanto é doloroso ser invadido por esta percepção aumentada do mundo. Interroga o sentido da vida, incansavelmente.
Quando se é sobredotado, não se sente jamais, então jamais, superior aos outros. Bem ao contrário. E, entretanto, esta idéia do sentimento de superioridade que se vivenciaria porque se é sobredotado martela tanto os espíritos... daqueles que não o são! O que acontece é que o sobredotado incha seu ego, para esconder seu sentimento de profunda fragilidade.
'HIPIE' - hiperinteligência e hiperemotividade, que vulnerabilizam - realidade neurológica. Viagem pelo cérebro.
O brilhante Hard-Working não é o sobredotado...
Forma atípica de funcionamento intelectual. Levar em conta este funcionamento sob duas versões: intelectual e afetivo. Planos afetivo e cognitivo. Estão intrincadas. Seu potencial só poderá se inscrever se esta componente for conhecida e compreendida. Ignorá-la ou recusá-la injustamente pode levar a uma desadaptação social dolorosa.
Mas, verdadeiramente, achamo-los mais adaptados que os outros!

Psicologicamente frágeis. Particularidades de viver e de pensar.
Parte infantil ainda muito presente. A capacidade de se maravilhar, por um nada, um todo pequeno nada.
Esqueçamos de imaturidade, e falemos de hipermaturidade. O sobredotado é um ser profundamente afetivo. Eis o que lhe dá por vezes este qualificativo de imaturo.É um camaleão, para ajustamento às pressões do ambiente. Ele joga com sua inteligência e sua sensibilidade para sua adequação ao mundo.
Pode ser deprimido, pois tenta ser no exterior diferentemente do que vive no seu interior, por medo de ser rejeitado.
Ingenuidade marcante, expressão da credulidade. Ele crê no maravilhoso, no mágico.
O entusiasmo, uma imensa energia a consumir sem moderação.

Denominemos "zebras", que se identificam entre elas, e cujas formidáveis particularidades podem lhes salvar de um grande número de armadilhas e perigos. Z de zorro, Z'emotivos, Z'errantes, Z'insubmissos, Z'ermitões,...
No homem, sua parte feminina guarda um lugar importante: a sensibilidade, a receptividade afetiva, o seu charme sensível.
Hiperativação cerebral: tempestade sobre um crânio.
Sintaxe correta, vocabulário rico e elaborado, desde muito cedo em idade. Borbulhamento cerebral difícil a canalizar.
Todas as informações são tratadas ao mesmo tempo e no mesmo nível de importância, e tem-se a impressão de perder as idéias essenciais. As conexões não são tratadas numa zona cerebral distinta (o que se observa atualmente com as localizações funcionais).
Quando se tenta agarrar uma idéia, ela já está muito longe e outras centenas surgiram. Como, enfim, liberar-se da carga emocional que se ativa no mesmo ritmo que os neurônios e que provoca o pensamento nas zonas ainda mais longínquas?
Sempre dependente do contexto afetivo, não podem funcionar sem levar em conta a dimensão e a carga emocionais presentes. Estilo cognitivo diferente, que não tem a mesma eficácia intelectual e tem um vínculo com o traço de personalidade.
Sendo o contexto carregado de informações, em particular emocionais, ele não chega a canalizar sua atenção. Ele se coloca em 'modo vigia' e não permite entrar em seu cérebro senão o mínimo de informações vitais... Neste momento, tem-se a impressão de que ele não escuta, de que ele não está lá! Por vezes, prejudicial para ele e muito provocante para o meio. Ele está em modo econômico! Então, para se fazer entender, será preciso repetir um grande número de vezes!
Do muito pensar à impulsividade: uma particularidade de funcionamento na origem de conflitos inúteis.
Pode dar a impressão de ser idiota a tal ponto, pode às vezes reagir, tomar decisões, de maneira irrefletida. O mais frequente: em 'modo vigia', ele responde, toma uma decisão superficial, ou pior, de lado. Donde vêm erros e conflitos inextricáveis. Muito difícil compreender e aceitar que este ser inteligente e sensível teria podido agir, intervir, de forma tão inadaptada. No final do combate, ele se fecha, abandona.
Crises, conflitos, reclamações, punições, reprimendas, segundo a disposição de cada um dos protagonistas serão as consequências desse 'desfuncionamento' ativado bem involuntariamente por este ser diferente, ele mesmo infeliz de tanta incompreensão recíproca.
Acarreta agressividade escondida, rivalidade, inveja, ciúmes, irritação, nas pessoas que convivem com esta 'zebrinha'.
Insatisfação crônica do sobredotado. Necessidade de mudar constantemente de profissão, sem jamais verdadeiramente encontrar o seu lugar. Como decidir e não renunciar? Nas entrelinhas se desenha uma forma de sentimento de tudo-poder: eu gostaria de tudo fazer! Fonte de sentimento que não o deixa jamais em paz. Tudo é constantemente repensado e colocado em questão. Uma armadilha desta singular forma de pensar, sem relaxamento.

Tédio. Para o sobredotado, é necessário que a vida seja sempre brilhante, fatos de novos acontecimentos, emoções fortes, alegrias intensas, êxitos sublimes... Com o coração e a cabeça, com o desejo no ventre. Tudo com o mesmo objetivo, o único válido para o sobredotado: um objetivo profundamente humanista.
Hiperatividade (ou mais adequado, sobreatividade, para naõ confundir com a patologia denominada hiperatividade): a outra face do tédio.
Impaciente de esperar os outros. A impaciência é tão penosa a suportar com todo seu cortejo de sensações físicas e psíquicas, mas tb com todas as críticas, os ataques que ele suscita. Eis o risco: desinvestir. Torna-se passivo. Não implicado. Ele não tem mais opinião. Retiro pensalizante.
Encontra-se constantes: a instabilidade amorosa.
Necessidade de estimulações amorosas constantes. O que o motiva: se sentir livre! São escapatórias ao tédio existencial.

O sentimento do outro: muito próximo do que vive o outro, na sua impotência de ajudá-lo, o sobredotado se afasta. Tenta bloquear ao máximo toda receptividade emocional para não mais sentir. Uma forma de sobrevivência... jamais uma falta de compaixão.

A inversão: não sentir mais nada.

A imensa solidão: nascida dessa distância sempre sentida entre si e o mundo, entre si e os outros. O sobredotado, de sua torre de controle, observa as falhas, as fragilidades, os limites...

Um engajamento absoluto. O sobredotado investe a fundo no outro, na relação, na confiança. A noção de amigo é uma noção absoluta.

Extrema autocrítica.

Desafia a antecipação que lhe causa ansiedade, com o hedonismo a todo preço. O prazer pelo prazer, ponto.

As mulheres sobredotadas intimidam facilmente.

Exclusão social. Rejeição dos outros.
Medo dos outros e de estar com os outros.

Certos sobredotados 'incham' seu ego. Eles desenvolvem uma personalidade que apareça suficiente, e dão a imagem de pessoas que se pensam tão acima das massas. Mas não nos enganemos a respeito! Ele é o mais frágil de todos.

O perfeccionismo: para ele, ou bem é perfeito, ou não vale a pena. A sede do absoluto, do 'perfeito' pode ter efeitos perversos: a incapacidade a empreender. O imobilismo.
Recusa de um tipo de sucesso desatado de sentido. Um êxito relativo à escala do mundo! O sentimento de falta, de não realização, é permanente.
Da percepção de sua diferença que o isola dos outros e do ataque da imagem de si que disso resulta, ela sofre duplamente. Estes mecanismos podem estar na origem de um recuo de si e de um desinvestimento progressivo do mundo. De uma perda de interesse.
Ou cobre seu cérebro com o sudário da estupidez.

Pensamento em arborescência: o que predomina:
- Tratamento global e em imagens.
- Capacidade de tratamento simultâneo de um grande número de dados.
- Funcionamento analógico pela associação de idéias.
- Inteligência intuitiva.
- Criatividade e pensamento divergente (que sai do pensamento comum).
- Forte implicação emocional. Ele pensa com o coração.
- Verdadeira esponja. Esta permeabilidade deixa pouco repouso e conduz a ajustamentos constantes.
- Singularidades nos processos neurofisiológicos da percepção sensorial.
- Tentar comunicar-se, enquanto não se funciona segundo os mesmos processos.
- A criança sobredotada, mesmo acabando silenciosa, tem necessidade de ser perpetuamente tranquilizada. Funcionamento fora das normas escolares.
- Relação com o mundo sempre singular.
- Vive ataques injustificados, desde criança, sobretudo na escola.
- Um déficit de inibição latente que obriga o sistema cerebral a integrar todas as informações provenientes do exterior sem uma seleção prévia. Ele tem a cabeça cheia.
- A precisão absoluta é fundamental, compreensão literal das coisas. É preciso explicar o contexto para que ele compreenda. Senão ele não compreende, ou compreende de outra forma. Aqui está a fonte de malentendidos penosos. No meio profissional, relação de forças se entabula com um patrão ou colaborador.
- Dificuldade de referências identificatórias, e quando criança se constrói geralmente sozinho.
- Sente-se todo-potência, e por outro lado, frágil e vulnerável.
- A impossível certeza: cada nova resposta atrai uma nova questão. Então, a dúvida é permanente e sobre todos os assuntos. Este modo de funcionamento acarreta uma forte problemática em torno da escolha. Escolher é renunciar... E os outros insistem na idéia de que não há mais a escolha de... não escolher!
Compreende-se o quanto a inteligência é ansiogênica.

- A resistência ao sentimento amoroso é muito forte, e deve-se ao medo. Medo de soltar todos os diques, de revelar sua vulnerabilidade e sensibilidade, de sofrer.
O adolescente: mais nada pode ser sentido através do corpo.Ou ainda a emergência de um vazio sideral interior para não mais sentir. A clivagem intelecto/corpo pode se tornar densa e cortar todo contato com a esfera emocional na adolescência.
- Dúvida dolorosa sobre seu valor intelectual pelo não reconhecimento de seu modo singular de pensar. Dúvida que fragiliza também suas bases narcísicas.
- Têm dificuldade de se interessar pelos assuntos que retêm principalmente a atenção dos outros e deve fazer um esforço considerável para se adaptar
. Ruptura com o exterior.
- Por vezes, o sobredotado faz semblante de ter sido convencido por vossos argumentos. Mas estejamos seguros, ele voltará.
- Alongar-se na descrição de algo ao escrever, muito além do que se lhe demanda simplesmente uma frase. (ele vê inicialmente imagens antes de transformá-las em palavras, que gera tantas idéias, lembranças, associações).
- Geralmente o sobredotado se cala. Não falar pois não sabe como dizer. E às vezes, quando fala, se fere bem involuntariamente, não era a boa palavra, não aquela que seria necessária... Perder-se no seu pensamento conduz frequentemente o sobredotado a passar por desvios para cercar uma idéia. É por vezes a única solução para tentar clarear suas palavras.
- Dupla fonte: da inteligência e do afetivo. Um não pode jamais funcionar sem o outro, e não podem ser compreendidos sem o entendimento do outro.
O sobredotado pensa com seu coração, bem antes de pensar com sua cabeça.
- O encontro com os outros é perturbado. A rejeição, a exclusão e o escárnio vem estigmatizar esta criança ou adulto admirado por tanta agressividade. Os outros não compreendem bem esta pessoa diferente que as incomoda...

- Hiperestesia (capacidade sensorial exacerbada. Competências visuais, auditivas, gustativas, olfativas, mas também sinestésicas - o gosto e o tocar - que se revelam muito superiores à média da população). A observação clínica mostra um número surpreendente de gastrônomos nos sobredotados e a relação muito particular que eles mantêm com o tocar. Eles têm necessidade de tocar para compreender. Competência intermodal.

A capacidade exarcebada dos cinco sentidos explica a extrema reação emocional e a importância do afetivo.
Todos os sentidos alertas de maneira constante alargam a receptividade ao mundo.
A exarcebação dos sentidos gera uma sensibilidade emocional elevada: tudo é percebido e a todo tempo.
A hiperestimulação, isto é, a rapidez do desencadeamento de uma resposta emocional do organismo, está diretamente correlacionado à hiperestesia.
É raro que os sobredotados falem disso pois, como para muitos dos aspectos de sua personalidade, eles ignoram que os outros não vivem as mesmas experiências.

Lucidez aguçada que disseca e analisa. Hiperreceptividade emocional que encontra o menor detalhe, que absorve a mais ínfima partícula de emoção ambiente.

Toda uma rede associativa de pensamentos se desdobra a grande velocidade. Cada idéia gera outra sem que um vínculo lógico sustente esta associação. Imagens, sensações, emoções vão alimentar esta arborescência que se torna mais e mais complexa e cujos múltiplos galhos abrem-se ao infinito. Rapidamente, a densidade dos pensamentos é elevada e torna-se bem improvável de esperar organizá-los e estruturá-los.
Favorável à emergência das idéias novas e criativas, surgimento de um pensamento rico, forte em imagens e em emoções, o pensamento em rede não é aquele da linguagem que explica claramente nem do raciocínio que argumenta logicamente ao falar.
(exceto quando profundamente conectado com suas emoções)
Quando o cérebro direito domina, numerosas tarefas tornam-se muito difíceis: nos aprendizados escolares e também em todas as situações, intelectuais ou não, que demandam ser rigorosamente organizadas e ordenadas.
Um testemunho: "nas crianças normais, quando se coloca uma questão, há uma antena que se eleva e elas refletem em torno, ao passo que em nós, há vinte e cinco antenas que se elevam e de repente se embaralham e não se chega mais a canalizar. Para exprimir-se, é muito difícil."
Só consegue expressar o mais perfeito do que quer dizer, se em conexão com a alquimia de seu pensamento e sua emoção.

Ele vê inicialmente imagens antes de transformá-las em palavras. Com uma dupla dificuldade: A imagem pode ser um novo ponto de saída de associações de idéias arborescentes, e a imagem produz uma aura de sentido que não chega a se condensar na linguagem no exato momento.

A impossibilidade de dizer sem estar totalmente conectado ao seu pensamento e suas emoções, no aqui e agora do que deseja exprimir. Se lhe pedem num segundo momento sua idéia sobre qualquer coisa, ele não sabe mais, pois não está conectado com a alquimia de seu pensamento.

Não chega a achar as palavras que poderiam traduzir seu pensamento no mais justo do que ele pensa e sente, naquele momento. Fica subjugado a entender seu próprio pensamento se desenrolar e se organizar tão simplesmente. Quando alguém consegue precisamente deduzir das suas narrações o que ele não saberia mais dizer num segundo momento, e esse alguém fala pausadamente em seu lugar, a 'zebrinha' sente um profundo alívio, fica extasiada.
"Quando eu estou sob um modo em arborescência, é mais difícil com a linguagem pois eu posso me reencontrar com simultaneamente cinco palavras que querem dizer a mesma coisa, ou quase, e que se apresentam no mesmo momento."

Tem uma resposta intuitiva: não poder ter acesso aos procedimentos de sua consciência.
Todos os sobredotados têm esta dificuldade. Dificuldade paradoxal que reduz por sua estrutura mesma o funcionamento de toda sua riqueza intrínseca.

Sobre um plano neuropsicológico, esta singularidade se explica pela ativação de conexões neuronais que emprestam vias ultrarápidas e por si mesmas imperceptíveis à consciência. A intuição fulgurante surge da colocação em ação dessas redes de neurônios carregadas de informações. As imagens cerebrais mostram esta ativação cerebral soterrada que se alimenta de conhecimentos anteriores e da capacidade de criar conexões inéditas. A inteligência intuitiva é a resultante absoluta com suas armadilhas e seus imensos recursos.

Fora de sintomas classicamente associados a um episódio depressivo, a depressão do sobredotado pode ser qualificada de depressão sobre o vazio. O objetivo: sobretudo não mais pensar. Este vazio depressivo é um mecanismo de defesa contra os pensamentos. Não é um vazio estrutural como o que se encontra em outros quadros clínicos. A defesa pela cognição aferrolha, por sua parte, o acesso às emoções. Não mais pensar, é tentar esquecer as questões sem respostas, questões sobre si, sobre os outros, sobre o mundo, sobre o sentido da vida... e da morte.
Única saída: sabotar a inteligência. Trata-se realmente de um ataque de si, de um retorno agressivo contra si mesmo.
A inibição intelectual lhe permite igualmente se recobrir com uma máscara de pseudo-debilidade que o ajuda a passar despercebido.

As faíscas de pensamento reacendem esta vivacidade intelectual sempre intacta e a qual, apesar de tudo, o adulto sobredotado continua a se conectar. Em segredo.

Notável capacidade de manipulação do sobredotado. É inicialmente ele que testa o psicólogo, e pode dar ao psicólogo um ilusório sentimento de competência; um presente que ele dá ao psicólogo, por consideração. O sobredotado é ávido de ajuda, mas desiludido de não a encontrar.

Tem medo da solidão programada, ele no qual o afetivo é tão central. Para quem a ligação e o olhar dos outros têm tanta importância. Ele para quem o engajamento afetivo não pode ser que não o absoluto.
A dificuldade dos sobredotados não está ligada diretamente à sua diferença, mas a seu sentimento de diferença.


Sua pequena vida é religada ao sentido do mundo. Abismos de angústia sem nome. Impossibilidade de se desatar do contexto.
Para um sobredotado, raramente existe um acordo íntimo enter o que ele é e o que ele faz. Uma aceitação obrigada, fonte de frustração.

O tempo: estar sempre deslocado. Ele não está jamais sincronizado com o movimento geral. Ele está em diferença permanente: em avanço, ou não-atividade. Em atraso, ou parado. Em avanço, ele vai geralmente muito mais rápido. Problemas de comunicação com os outros: não se compreende, não se está sincronizado.

Não aproveita o presente. Seu pensamento o conduz a analisar seu presente em lembranças ou num passado mais amplo, mas também a projetar num futuro onde ele se recordará do que ele está na forma de viver aqui e agora.
Dotado daquela empatia que o confina às vezes ao masoquismo, em razão das emoções dos outros vividas por procuração...
Tem uma perspectiva visionária.
Deslocados, e, finalmente, desconfortáveis.
O atraso é uma outra forma de deslocamento. Para ele, alguns conferem uma importância desmesurada a valores que parecem a ele tão subsidiários, que estes sejam valores de sucesso, de dinheiro, de bens materiais.

Deseja ser verdadeiramente compreendido pelo que se é e ser aceito nas suas singularidades. Isto supõe um ajustamento constante.

Ser profundamente afetivo

Adultos que guardam este modo de funcionamento tão particular que os distinguem. Eles mesmos percebem, sem saber nomeá-lo, os outros sentem, mas atribuem-no a um traço de caráter, a uma originalidade, à personalidade "marginal", ou muito sensível de seu amigo... O adulto se acha assim pego, e desde sempre, num sistema de espelhos que refletem imagens de si mesmo multiformes e frequentemente deformadas.
Esse adulto tem necessidade de compreender quem ele é, como ele funciona, porque se o ama, porque ele é rejeitado, quais seus verdadeiros limites.
Alguns, jamais descobertos, vivem à margem.
Sua aflição singular não pode escapar aos clínicos de audição exercida e experta. O número de adultos sobredotados em ruptura com a vida e em sofrimento psicológico por vezes severo é elevado e convém considerá-lo em tal medida. Confiados aos profissionais não experts, ou, pior ainda, rejeitando o diagnóstico, eles se verão precipitados nas suas 'peregrinações' diagnósticas e terapêuticas que não farão mais que acentuar sua doença e seu profundo sentimento de solidão e de incompreensão.
Inteligência qualitativamente diferente.
Dizer ou não dizer? Poucos dos outros que lhe ouvem saberão integrar todas as nuances. Risco de zombarias e escárnios. Acarreta agressividade escondida, rivalidade, inveja, ciúmes, irritação, nas pessoas que convivem com esta 'zebrinha'.

Psicologicamente frágeis. Particularidades de viver e de pensar.
Parte infantil ainda muito presente. A capacidade de se maravilhar, por um nada, um todo pequeno nada.
Esqueçamos de imaturidade, e falemos de hipermaturidade. O sobredotado é um ser profundamente afetivo. Eis o que lhe dá por vezes este qualificativo de imaturo.
É um camaleão, para ajustamento às pressões do ambiente. Ele joga com sua inteligência e sua sensibilidade para sua adequação ao mundo.
Pode ser deprimido, pois tenta ser no exterior diferentemente do que vive no seu interior, por receio de ser rejeitado.
Ingenuidade marcante, expressão da credulidade. Ele crê no maravilhoso, no mágico.
A inteligência excessiva e atípica é um duplo mal: ela faz sofrer e ninguém não pensa a lastimar daquele que sofre. Pelo contrário, ela pode suscitar inveja e agressividade e ampliar assim o sofrimento. Não se dirá jamais de alguém: <Ele é simpático, mas pobre, ele é muito inteligente!>
David há algumas vezes que ele vem me ver. Ele deve ter dificuldade de achar uma via que o convém. Ele abandona e cada vez que ele visa um novo projeto, sua análise extralúcida os faz perceber as falhas e os limites. Então ele procura outra coisa. Um dia, em curso de sessão, ele me diz: < Como pode você me compreender já que você não é sobredotado? Você terá seus limites. Você pode compreender a teoria, mas não o que eu vejo. > Ufa, é preciso o entender mesmo! E integrá-lo no avanço terapêutico. Senão é ruim, é o paciente que perde.

Quando se é sobredotado, não se sente jamais, mas então jamais, superior aos outros. Bem ao contrário. E entretanto, esta idéia do sentimento de superioridade que se vivenciaria porque se é sobredotado martela tanto os espíritos... daqueles que não o são!


O que é verdade, no entanto, é que certos sobredotados < incham seu ego >. Eles desenvolvem uma personalidade que apareça suficiente, adotam este comportamento. Eles dão a imagem de pessoas que se pensam tão acima da massa. Mas não nos enganemos a respeito! O sobredotado que parece pretensioso é o mais vulnerável entre todos. Sua suficiência tenta esconder seu sentimento de profunda fragilidade.
A lucidez sobre o mundo e sobre si abre as portas de uma compreensão chocante e afiada. A potência desta lucidez pode ser dolorosa mas ela é também a fonte de uma visão das coisas que se poderia finalmente qualificar de extralúcida.
Sua sensibilidade do mundo e de sua inteligência atípica! Que desperdício! ... cuja diferença suscita mais inveja do que compaixão, enfim todos os sobredotados que sofrem em silêncio não são jamais (muito raramente) levados em conta pela nossa sociedade do século XXI.

quinta-feira, 17 de março de 2016

"O sobredotado cedeu, de seu lado, por compaixão. A estima que ele tem para com a psicóloga o fez evitar colocá-la em grande dificuldade profissional. Ele a respeita e respeita suas competências. O que a salva... a ela!"
Frequentemente ele antecipa suas questões, suas interpretações, e o psicólogo pego na cilada será confrontado num ilusório sentimento de competência. 
Muitos psicólogos são procedentes da psicanalítica clássica, sem nenhuma ligação com as características de personalidade do sobredotado.
David. Há algumas vezes que ele vem me ver. Ele deve ter dificuldade de achar uma vida que lhe convém. Ele abandona, e cada vez que ele visa um novo projeto, sua análise extralúcida o faz perceber as falhas e os limites. Então ele procura outra coisa. Um dia, em curso de sessão, ele me diz: &lt; Como pode você me compreender já que você não é sobredotado? Você terá seus limites. Você pode compreender alguma teoria, mas não o que eu vejo. &gt; Ufa, é preciso entendê-lo mesmo! E integrá-lo no avanço terapêutico. Senão é ruim, e é o paciente que perde.
Como é humanamente possível recusar injustamente em aceitar toda uma população marginal sobre pretextos ideológicos ultrapassados? Com qual finalidade? Como não respeitar todas essas pessoas em sofrimento, mas também todos estes pais desamparados que procuram ajuda para acompanhar seus filhos?
Como é possível ignorar que a inteligência excessiva é forçosamente ansiogênica e que ela gera uma sensibilidade, uma lucidez, uma maneira de ser no mundo que marca o conjunto da personalidade?
Então talvez é preciso esperar que as mentalidades evoluam, que as neurociências acelerem mais seus prodigiosos avanços, que certos clínicos atualizem seus conhecimentos para que, enfim, os sobredotados sejam compreendidos e ajudados nas suas fragilidades que lhes são específicas.
Eles mesmos percebem, sem saber o nomear, os outros sentem, mas o atribuem espontaneamente a um traço de caráter, a uma originalidade, à personalidade &lt;marginal&gt;, ou muito sensível de seu amigo... O adulto se acha assim pego, e este desde sempre, num sistema de espelhos que refletem imagens de si mesmo multiformes e frequentemente deformadas. 
“Eu não saberia dizer qual foi meu alívio de me saber normal, eu que sempre vivi como deslocada, inadaptada. Eu pude enfim colocar as palavras sobre minhas sensações, e, se eu não sou livre, eu me sinto liberada.”
(Na verdade, eu o considero mais adaptado que os outros, diz a autora.)
Do cérebro dos sobredotados:
Os primeiros malentendidos: não compreender os implícitos, não decodificar o sentido das palavras. 
Dependência em relação ao campo. Estilo cognitivo diferente.
Sempre dependente do contexto afetivo. Ele não sabe, não pode funcionar sem levar em conta a dimensão e a carga emocional presentes.
Do muito pensar à impulsividade. Uma particularidade de funcionamento . 
A resposta intuitiva: não poder aceder aos procedimentos. Vias ultrarápidas e por si mesmas imperceptíveis à consciência. 
Hiperestesia ou a percepção intensiva de todos os sentidos. A sinestesia, uma surpreendente competência sensorial.
A empatia que capta as emoções dos outros. 
Pensamento linear e pensamento em arborescência (este último, o dos sobredotados.)
O déficit de inibição latente.


Na realidade, eu acho que, finalmente, a contribuição das neurociências tranquiliza, mas não traz senão reais revelações: os clínicos sabem desde muito tempo reconhecer a singularidade do pensamento e da afetividade dos sobredotados
Em todo caso, o que verdadeiramente está em jogo se resume na questão seguinte: e agora, So what?  Diriam os Anglo-Saxões.
(S. Facchin)

Atenção para não se deixar agarrar pelas representações dominantes

'Trechos.
(...) Atenção para não se deixar agarrar pelas representações dominantes. Como se a representação corrente de uma grande inteligência supusesse a obrigação de um grande destino. Isto não é uma crítica, é claro. Mas uma constatação. A explicação? O medo. Pois na sua leitura acelerada da vida, o adulto sobredotado se reconecta brutalmente a ele mesmo, a todas as questões meticulosamente abafadas. A resposta é mais sutil, mas complexa. Trata-se menos de fazer algo de diferente que de ser enfim si mesmo.
~ O BB, Brillant Bosseur, não é o sobredotado... É a origem da confusão. Pensar que aquele que tem êxito brilhantemente é forçosamente sobredotado. Então mistura-se duas características distintas. O Brilhante Hard-Working (B. Bosseur) é aquele que possui uma grande inteligência mas adaptativa. Uma forma de inteligência parecida àquela de todos. Somente diferente em quantidade e não em qualidade. O primeiro tem uma inteligência quantitativamente superior mas qualitativamente idêntica. De mais, com esta inteligência adaptativa, saberá otimizar trabalhando para fazer uma força de sucesso exemplar, no sentido mais clássico do termo.
Mas esses BBs se distinguem dos sobredotados pela sua facilidade de utilizar seu potencial cujas formas adaptadas convêm bem à nossa sociedade. De outro lado, a natureza da inteligência mais intensa, desenfreada, do sobredotado, torna seu mais difícil. Para ele, o combate é ele mesmo primeiro. É chegar a aprisionar, dosar, canalizar seu pensamento e sua compreensão tentacular do mundo em um curso linear e concentrado. Tudo apaziguando as asperezas as mais sensíveis e dolorosas de sua sensibilidade. É seu primeiro desafio. Depois, somente depois, ele poderá se interrogar sobre como fazer com o mundo?
~ 'L'émotion pour un surdoué s'insinue partout, tout le temps, dans les moindres interstices. Et quelquefois, on joue à l'adulte.'
O sobredotado é particularmente dotado na matéria: ele capta toda sorte de emoções, mesmo a mais tênue. Eles sabem antecipá-la. 
~ Todos os sentidos a serviço do prazer de viver. A hiperestesia redobra as possibilidades. A colocação em ação de todos os sentidos simultaneamente e sua notável capacidade de discriminação, dão ao sobredotado uma presença no mundo fora do comum. A hiperestesia amplifica todas as percepções. Ela permite criar o bonito lá onde outros não verão senão o banal. Ela ilumina o mundo pela densidade emocional que todos os sentidos proporcionam. A hiperestesia pode ser utilizada para capturar o ambiente e o magnificar. Utilizar todos os sentidos para abraçar o mundo. Tudo sentir pode ser um imenso prazer e a fonte de momentos mágicos de vida.
~ A sensibilidade poética e estética, culto ao Belo.
~ A hipersensibilidade invasiva. Sentir tão forte as emoções, a vida que vibra em torno de si. Tudo perceber, amplificado, aumentado, incontornável. Captar e registrar o mais ínfimo detalhe. Aquele tão insignificante, que não atravessou a barreira da consciência. Então, inchado de emoções, de sensações, a vida torna um relevo admirável, uma densidade rara. Intensa.
~ A incompreensão recíproca do mundo. Não se compreende os outros.. e somos incompreendidos. 
Como compreender o incompreensível? O sentido. Primeiro o sentido. Sempre o sentido. O motivo condutor do funcionamento do sobredotado, a procura obstinada e incoercível. A busca do sentido das coisas, do sentido preciso das coisas, absoluto. O risco? A procurar um sentido a tudo acaba-se por encontrar o absurdo, o não-sentido. O simples bom senso não tem mais curso. Então como compreender o incompreensível? E o sobredotado, decepcionado, não compreende mais. Retorna nas questões jamais resolvidas.
Compreender de outra forma produz bem estranhos malentendidos. Na sua vida profissional, é o leito de numerosas decepções e de malentendidos por vezes irreversíveis.
~ Na vida pessoal ou no universo profissional, esta inteligência singular, capaz de pensar um problema ativando simultaneamente representações múltiplas, alarga consideravelmente a compreensão e a análise. Cada problema pode ser estudado sob vários ângulos. Tudo será explorado. E, ao final, uma avaliação rara e exaustiva, um poder de reflexão fora do comum, uma visão esclarecida e potencial. Um imenso trunfo a utilizar sem moderação!
~ A evasão pelo pensamento. O mais frequente é falar disso como uma crítica. Critica-se, na infância e mesmo no adulto, evadir-se no pensamento. Pode-se compreender que este funcionamento possa ser irritante ou perturbador em certas situações. Mas é também uma maneira muito útil de utilizar os recursos de pensamento. O imaginário rico alimentado pela memória, a exarcebação de todos os sentidos e as capacidades de associação podem fabricar um sonho suficientemente forte para vos extrair momentaneamente e vos alimentar. O corpo resta lá mas o espírito se destaca e todo nosso ser, físico e psíquico, participa da viagem. Um verdadeiro prazer. Uma verdadeira regalia para todos os sentidos e em todos os sentidos. Um pleno de energia. 
~ Confunde-se, na realidade, sucesso, aquele comumente admitido por todos, e sentimento de sucesso, que escapa às regras estabelecidas. O sentimento de sucesso é íntimo, pessoal, resulta de uma alquimia sutil. Experimentar o sentimento de ter êxito em sua vida é independente do ambiente.
Para o sobredotado, preso a múltiplas interrogações, a uma colocação em questão incessante, como pensar o sucesso? Pode-se somente o pensar? Para o sobredotado, isto não pode ser senão um sentimento flutuante, instável.
Para o sobredotado, ter sucesso, é possível? Não como ele gostaria. Jamais à altura do ideal que ele tem da vida e de si mesmo. Para ele, obter êxito, é fazer avançar a humanidade, o mundo. Não se trata de um sucesso profissional clássico. Não é perfeitamente isto para um sobredotado, mesmo se ele participa disto. Ele vive com uma visão mais transcendental do sucesso. O sobredotado está raramente satisfeito. A imagem do sucesso que ele pode por vezes dar não está jamais sincronizado com sua visão do mundo. 
"Meu projeto, você irá certamente zombar de mim, confessa-me Julien, seria de ajudar a humanidade a melhor viver." Ainda encontra-se murmurando, consciente da megalomania de seu desejo, que o que desejaria, seria ser como Jesus ou Buda para transmitir uma mensagem ao mundo e fazer profundamente evoluir os homens.
Vê-se o abismo que separa o que aparece da realidade e o sonho grandioso. Mas que incomoda, sempre, o sobredotado. Mesmo quando ele não diz nada e que parece tão arrumado numa vida clássica de felicidades simples e no sucesso complacente. Não se enganem: no fundo de si, o projeto insensato continua a murmurar.
~ Quando o tempo não está sincronizado com o que se vive: não poder aproveitar as coisas. É uma combinação da falha espaço-temporal e da diferença do tempo: o sobredotado tem dificuldade de estar totalmente no que ele faz, no que ele vive. Seu pensamento o conduz a analisar seu presente em lembranças ou num passado mais amplo, mas também a se projetar num futuro onde ele se recordará do que ele está em forma de viver no aqui e agora. 
~ A falha espaço-temporal: Viver em vários espaços-tempos. Isto se complica ainda. O sobredotado se sente multi-idade, mas ele se situa igualmente em vários espaços-tempos: passado-presente-futuro. Tempo do vivido individual, mas que é também recolocado no contexto do espaço-tempo do universo. Impossibilidade do sobredotado de se desatar do contexto. Sua existência, sua razão de ser e de viver é dependente dA Vida, ocm um A e um V maiúsculos. Sua vida é ligada ao sentido do munod. Mesmo se o sentido lhe escapa, ele não pode se considerar como isolado do resto. Toda sua vida pessoal é perpetuamente colocada em perspectiva à escala do universo. Para o sobredotado, somente esta perspectiva universal e intemporal pode ter sentido e dar sentido à vida comum de cada um. 
~ Aquele que tem a idade do mundo. Mas eis outra face inesperada. A parte infantil do sobredotado, smepre muito presente, costeia uma outra percepção: se sentir multi-idade. A sensação, segundo as circunstâncias, os contextos, as pessoas com as quais se encontra, de ter simultaneamente ou sucessivamente níveis de maturidade diferentes.
(...) Atenção, eu não estou em vias de dizer que o sobredotado é todo-poderoso e onipotente. Mas eu digo que seu modo de funcionamento, sob as versões intelectual e afetiva, dão a ele uma hipermaturidade muito característica. Uma criança hipermadura! A hipermaturidade deve ser aqui compreendida como esta capacidade única de analisar com uma lucidez exemplar todas as componentes de uma situação e aí se adaptar. Ou lutar contra, o que torna-se o mesmo em termos de mecanismo.
Os adultos sobredotados partilham uma característica perfeitamente surpreendente e entretanto bem escondida: uma parte infantil ainda muito presente. Então, algumas vezes, brinca-se de adulto, dá-se ares de adulto... tudo sonhando como uma criança!
O mais frequente, a criança sobredotada cresceu sabendo. Sua capacidade de sentir o outro, os outros, sua receptividade emocional, suas capacidades de percepção e de análise tinham enviado a ela a mensagem: atenção, ilusão! Ela adquiriu muito cedo a certeza que ser adulto não está conforme às imagens que estes últimos tentaram mostrar.
~ Toda a sua hipersensibilidade à disposição do prazer de viver!
~ A lucidez estonteante. como viver com esta lucidez que inunda tudo que o cerca. Não identificada nos manuais de psicologia. Que escruta o menor recanto. Uma lucidez que penetra o mais profundo do outro. A lucidez do sobredotado é tanto mais potente quanto ela se alimenta de uma dupla fonte: a inteligência aguçada que disseca e analisa, a hiper.receptibilidade emocional que absorve a mais ínfima partícula de emoção ambiente.
~ Todo o funcionamento intelectual e afetivo aguça os contornos, desde criança, claro.
~ etc.
tradução Viviane Anetti (J.S.-Facchin, autora francesa)