Estas 'esquisitas' e lindas pessoas existem.
Infelizmente, preciosidades desperdiçadas.
E, por tal razão, sinto muito, tenho que expressar um pouco disso tudo, mesmo que a maioria não compreenda, e mesmo que desperte no entorno mais escárnio, estranheza, etc.
Mas, e sobretudo, o que eu poderia colocar no fim do texto, coloco agora, para esta pessoa 'diferente': guarde preciosamente vossa alma de criança, vossa ingenuidade refrescante, vossa criatividade fulgurante, vossa sensibilidade transtornante, vossa curiosidade sempre em alerta, vossa inteligência efervescente. Guarde todos estes tesouros que fazem de você um adulto decididamente diferente. Um adulto que não se tornará jamais uma "grande pessoa"!
"Eu não saberia expressar meu alívio de me saber normal, eu que sempre vivi como deslocada, inadaptada, inapta. Eu pude enfim colocar as palavras sobre meus males, e, se eu não sou livre, eu me sinto liberada." "Eu terei perdido minha vida? Como compensar?", e resposta: Revisitar sua história à luz deste novo esclarecimento. Reorganizações profundas.
Há tipologias dentre os sobredotados, apenas para colocar pontos de referência.
Adultos que guardam este modo de funcionamento tão particular que os distinguem. Eles mesmos percebem, sem saber nomeá-lo, os outros sentem, mas o atribuem a um traço de caráter, a uma originalidade, à personalidade "marginal", ou muito sensível de seu amigo... O adulto se acha assim pego, e desde sempre, num sistema de espelhos que refletem imagens de si mesmo multiformes e frequentemente deformadas.
Esse adulto tem necessidade de compreender quem ele é, como ele funciona, porque se o ama, porque ele é rejeitado, quais seus verdadeiros limites.
Alguns, jamais descobertos, vivem à margem.
Sua aflição singular não pode escapar aos clínicos de audição exercida e experta. O número de adultos sobredotados em ruptura com a vida e em sofrimento psicológico por vezes severo é elevado e convém considerá-lo em tal medida. Confiados aos profissionais não experts, ou, pior ainda, rejeitando o diagnóstico, eles se verão precipitados nas suas 'peregrinações' diagnósticas e terapêuticas que não farão mais que acentuar sua doença e seu profundo sentimento de solidão e de incompreensão.
Inteligência qualitativamente diferente.
Dizer ou não dizer? Poucos dos outros que lhe ouvem saberão integrar todas as nuances. Risco de zombarias e escárnios.
Ser sobredotado é uma imensa força, uma riqueza incrível, e se e somente se, se conhece-se bem as diferentes facetas, as armadilhas, mas também os recursos infinitos.
É uma força frágil, um objeto
hightech.
Inteligência aguçada, os efeitos podem ser dolorosos.
A lucidez estonteante cria um verdadeiro transtorno, não identifica nos manuais de psicologia, e, perto da vertigem, do sofrimento, sempre. Todos os adultos sobredotados explicam o quanto é doloroso ser invadido por esta percepção aumentada do mundo. Interroga o sentido da vida, incansavelmente.
Quando se é sobredotado, não se sente jamais, então jamais, superior aos outros. Bem ao contrário. E, entretanto, esta idéia do sentimento de superioridade que se vivenciaria porque se é sobredotado martela tanto os espíritos... daqueles que não o são! O que acontece é que o sobredotado incha seu ego, para esconder seu sentimento de profunda fragilidade.
'HIPIE' - hiperinteligência e hiperemotividade, que vulnerabilizam - realidade neurológica. Viagem pelo cérebro.
O brilhante
Hard-Working não é o sobredotado...
Forma atípica de funcionamento intelectual. Levar em conta este funcionamento sob duas versões: intelectual e afetivo. Planos afetivo e cognitivo. Estão intrincadas. Seu potencial só poderá se inscrever se esta componente for conhecida e compreendida. Ignorá-la ou recusá-la injustamente pode levar a uma desadaptação social dolorosa.
Mas, verdadeiramente, achamo-los mais adaptados que os outros!
Psicologicamente frágeis. Particularidades de viver e de pensar.
Parte infantil ainda muito presente. A capacidade de se maravilhar, por um nada, um todo pequeno nada.
Esqueçamos de imaturidade, e falemos de hipermaturidade. O sobredotado é um ser profundamente afetivo. Eis o que lhe dá por vezes este qualificativo de imaturo.É um camaleão, para ajustamento às pressões do ambiente. Ele joga com sua inteligência e sua sensibilidade para sua adequação ao mundo.
Pode ser deprimido, pois tenta ser no exterior diferentemente do que vive no seu interior, por medo de ser rejeitado.
Ingenuidade marcante, expressão da credulidade. Ele crê no maravilhoso, no mágico.
O entusiasmo, uma imensa energia a consumir sem moderação.
Denominemos "zebras", que se identificam entre elas, e cujas formidáveis particularidades podem lhes salvar de um grande número de armadilhas e perigos. Z de zorro, Z'emotivos, Z'errantes, Z'insubmissos, Z'ermitões,...
No homem, sua parte feminina guarda um lugar importante: a sensibilidade, a receptividade afetiva, o seu charme sensível.
Hiperativação cerebral: tempestade sobre um crânio.
Sintaxe correta, vocabulário rico e elaborado, desde muito cedo em idade. Borbulhamento cerebral difícil a canalizar.
Todas as informações são tratadas ao mesmo tempo e no mesmo nível de importância, e tem-se a impressão de perder as idéias essenciais. As conexões não são tratadas numa zona cerebral distinta (o que se observa atualmente com as localizações funcionais).
Quando se tenta agarrar uma idéia, ela já está muito longe e outras centenas surgiram. Como, enfim, liberar-se da carga emocional que se ativa no mesmo ritmo que os neurônios e que provoca o pensamento nas zonas ainda mais longínquas?
Sempre dependente do contexto afetivo, não podem funcionar sem levar em conta a dimensão e a carga emocionais presentes. Estilo cognitivo diferente, que não tem a mesma eficácia intelectual e tem um vínculo com o traço de personalidade.
Sendo o contexto carregado de informações, em particular emocionais, ele não chega a canalizar sua atenção. Ele se coloca em 'modo vigia' e não permite entrar em seu cérebro senão o mínimo de informações vitais... Neste momento, tem-se a impressão de que ele não escuta, de que ele não está lá! Por vezes, prejudicial para ele e muito provocante para o meio. Ele está em modo econômico! Então, para se fazer entender, será preciso repetir um grande número de vezes!
Do muito pensar à impulsividade: uma particularidade de funcionamento na origem de conflitos inúteis.
Pode dar a impressão de ser idiota a tal ponto, pode às vezes reagir, tomar decisões, de maneira irrefletida. O mais frequente: em 'modo vigia', ele responde, toma uma decisão superficial, ou pior, de lado. Donde vêm erros e conflitos inextricáveis. Muito difícil compreender e aceitar que este ser inteligente e sensível teria podido agir, intervir, de forma tão inadaptada. No final do combate, ele se fecha, abandona.
Crises, conflitos, reclamações, punições, reprimendas, segundo a disposição de cada um dos protagonistas serão as consequências desse 'desfuncionamento' ativado bem involuntariamente por este ser diferente, ele mesmo infeliz de tanta incompreensão recíproca.
Acarreta agressividade escondida, rivalidade, inveja, ciúmes, irritação, nas pessoas que convivem com esta 'zebrinha'.
Insatisfação crônica do sobredotado. Necessidade de mudar constantemente de profissão, sem jamais verdadeiramente encontrar o seu lugar. Como decidir e não renunciar? Nas entrelinhas se desenha uma forma de sentimento de tudo-poder: eu gostaria de tudo fazer! Fonte de sentimento que não o deixa jamais em paz. Tudo é constantemente repensado e colocado em questão. Uma armadilha desta singular forma de pensar, sem relaxamento.
Tédio. Para o sobredotado, é necessário que a vida seja sempre brilhante, fatos de novos acontecimentos, emoções fortes, alegrias intensas, êxitos sublimes... Com o coração e a cabeça, com o desejo no ventre. Tudo com o mesmo objetivo, o único válido para o sobredotado: um objetivo profundamente humanista.
Hiperatividade (ou mais adequado, sobreatividade, para naõ confundir com a patologia denominada hiperatividade): a outra face do tédio.
Impaciente de esperar os outros. A impaciência é tão penosa a suportar com todo seu cortejo de sensações físicas e psíquicas, mas tb com todas as críticas, os ataques que ele suscita. Eis o risco: desinvestir. Torna-se passivo. Não implicado. Ele não tem mais opinião. Retiro pensalizante.
Encontra-se constantes: a instabilidade amorosa.
Necessidade de estimulações amorosas constantes. O que o motiva: se sentir livre! São escapatórias ao tédio existencial.
O sentimento do outro: muito próximo do que vive o outro, na sua impotência de ajudá-lo, o sobredotado se afasta. Tenta bloquear ao máximo toda receptividade emocional para não mais sentir. Uma forma de sobrevivência... jamais uma falta de compaixão.
A inversão: não sentir mais nada.
A imensa solidão: nascida dessa distância sempre sentida entre si e o mundo, entre si e os outros. O sobredotado, de sua torre de controle, observa as falhas, as fragilidades, os limites...
Um engajamento absoluto. O sobredotado investe a fundo no outro, na relação, na confiança. A noção de amigo é uma noção absoluta.
Extrema autocrítica.
Desafia a antecipação que lhe causa ansiedade, com o hedonismo a todo preço. O prazer pelo prazer, ponto.
As mulheres sobredotadas intimidam facilmente.
Exclusão social. Rejeição dos outros.
Medo dos outros e de estar com os outros.
Certos sobredotados 'incham' seu ego. Eles desenvolvem uma personalidade que apareça suficiente, e dão a imagem de pessoas que se pensam tão acima das massas. Mas não nos enganemos a respeito! Ele é o mais frágil de todos.
O perfeccionismo: para ele, ou bem é perfeito, ou não vale a pena. A sede do absoluto, do 'perfeito' pode ter efeitos perversos: a incapacidade a empreender. O imobilismo.
Recusa de um tipo de sucesso desatado de sentido. Um êxito relativo à escala do mundo! O sentimento de falta, de não realização, é permanente.
Da percepção de sua diferença que o isola dos outros e do ataque da imagem de si que disso resulta, ela sofre duplamente. Estes mecanismos podem estar na origem de um recuo de si e de um desinvestimento progressivo do mundo. De uma perda de interesse.
Ou cobre seu cérebro com o sudário da estupidez.
Pensamento em arborescência: o que predomina:
- Tratamento global e em imagens.
- Capacidade de tratamento simultâneo de um grande número de dados.
- Funcionamento analógico pela associação de idéias.
- Inteligência intuitiva.
- Criatividade e pensamento divergente (que sai do pensamento comum).
- Forte implicação emocional. Ele pensa com o coração.
- Verdadeira esponja. Esta permeabilidade deixa pouco repouso e conduz a ajustamentos constantes.
- Singularidades nos processos neurofisiológicos da percepção sensorial.
- Tentar comunicar-se, enquanto não se funciona segundo os mesmos processos.
- A criança sobredotada, mesmo acabando silenciosa, tem necessidade de ser perpetuamente tranquilizada. Funcionamento fora das normas escolares.
- Relação com o mundo sempre singular.
- Vive ataques injustificados, desde criança, sobretudo na escola.
- Um déficit de inibição latente que obriga o sistema cerebral a integrar todas as informações provenientes do exterior sem uma seleção prévia. Ele tem a cabeça cheia.
- A precisão absoluta é fundamental, compreensão literal das coisas. É preciso explicar o contexto para que ele compreenda. Senão ele não compreende, ou compreende de outra forma. Aqui está a fonte de malentendidos penosos. No meio profissional, relação de forças se entabula com um patrão ou colaborador.
- Dificuldade de referências identificatórias, e quando criança se constrói geralmente sozinho.
- Sente-se todo-potência, e por outro lado, frágil e vulnerável.
- A impossível certeza: cada nova resposta atrai uma nova questão. Então, a dúvida é permanente e sobre todos os assuntos. Este modo de funcionamento acarreta uma forte problemática em torno da escolha. Escolher é renunciar... E os outros insistem na idéia de que não há mais a escolha de... não escolher!
Compreende-se o quanto a inteligência é ansiogênica.
- A resistência ao sentimento amoroso é muito forte, e deve-se ao medo. Medo de soltar todos os diques, de revelar sua vulnerabilidade e sensibilidade, de sofrer.
O adolescente: mais nada pode ser sentido através do corpo.Ou ainda a emergência de um vazio sideral interior para não mais sentir. A clivagem intelecto/corpo pode se tornar densa e cortar todo contato com a esfera emocional na adolescência.
- Dúvida dolorosa sobre seu valor intelectual pelo não reconhecimento de seu modo singular de pensar. Dúvida que fragiliza também suas bases narcísicas.
- Têm dificuldade de se interessar pelos assuntos que retêm principalmente a atenção dos outros e deve fazer um esforço considerável para se adaptar. Ruptura com o exterior.
- Por vezes, o sobredotado faz semblante de ter sido convencido por vossos argumentos. Mas estejamos seguros, ele voltará.
- Alongar-se na descrição de algo ao escrever, muito além do que se lhe demanda simplesmente uma frase. (ele vê inicialmente imagens antes de transformá-las em palavras, que gera tantas idéias, lembranças, associações).
- Geralmente o sobredotado se cala. Não falar pois não sabe como dizer. E às vezes, quando fala, se fere bem involuntariamente, não era a boa palavra, não aquela que seria necessária... Perder-se no seu pensamento conduz frequentemente o sobredotado a passar por desvios para cercar uma idéia. É por vezes a única solução para tentar clarear suas palavras.
- Dupla fonte: da inteligência e do afetivo. Um não pode jamais funcionar sem o outro, e não podem ser compreendidos sem o entendimento do outro.
O sobredotado pensa com seu coração, bem antes de pensar com sua cabeça.
- O encontro com os outros é perturbado. A rejeição, a exclusão e o escárnio vem estigmatizar esta criança ou adulto admirado por tanta agressividade. Os outros não compreendem bem esta pessoa diferente que as incomoda...
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Hiperestesia (capacidade sensorial exacerbada. Competências visuais, auditivas, gustativas, olfativas, mas também sinestésicas - o gosto e o tocar - que se revelam muito superiores à média da população). A observação clínica mostra um número surpreendente de gastrônomos nos sobredotados e a relação muito particular que eles mantêm com o tocar. Eles têm necessidade de tocar para compreender. Competência intermodal.
A capacidade exarcebada dos cinco sentidos explica a extrema reação emocional e a importância do afetivo.
Todos os sentidos alertas de maneira constante alargam a receptividade ao mundo.
A exarcebação dos sentidos gera uma sensibilidade emocional elevada: tudo é percebido e a todo tempo.
A hiperestimulação, isto é, a rapidez do desencadeamento de uma resposta emocional do organismo, está diretamente correlacionado à hiperestesia.
É raro que os sobredotados falem disso pois, como para muitos dos aspectos de sua personalidade, eles ignoram que os outros não vivem as mesmas experiências.
Lucidez aguçada que disseca e analisa. Hiperreceptividade emocional que encontra o menor detalhe, que absorve a mais ínfima partícula de emoção ambiente.
Toda uma rede associativa de pensamentos se desdobra a grande velocidade. Cada idéia gera outra sem que um vínculo lógico sustente esta associação. Imagens, sensações, emoções vão alimentar esta arborescência que se torna mais e mais complexa e cujos múltiplos galhos abrem-se ao infinito. Rapidamente, a densidade dos pensamentos é elevada e torna-se bem improvável de esperar organizá-los e estruturá-los.
Favorável à emergência das idéias novas e criativas, surgimento de um pensamento rico, forte em imagens e em emoções, o pensamento em rede não é aquele da linguagem que explica claramente nem do raciocínio que argumenta logicamente ao falar.
(exceto quando profundamente conectado com suas emoções)
Quando o cérebro direito domina, numerosas tarefas tornam-se muito difíceis: nos aprendizados escolares e também em todas as situações, intelectuais ou não, que demandam ser rigorosamente organizadas e ordenadas.
Um testemunho: "nas crianças normais, quando se coloca uma questão, há uma antena que se eleva e elas refletem em torno, ao passo que em nós, há vinte e cinco antenas que se elevam e de repente se embaralham e não se chega mais a canalizar. Para exprimir-se, é muito difícil."
Só consegue expressar o mais perfeito do que quer dizer, se em conexão com a alquimia de seu pensamento e sua emoção.
Ele vê inicialmente imagens antes de transformá-las em palavras. Com uma dupla dificuldade: A imagem pode ser um novo ponto de saída de associações de idéias arborescentes, e a imagem produz uma aura de sentido que não chega a se condensar na linguagem no exato momento.
A impossibilidade de dizer sem estar totalmente conectado ao seu pensamento e suas emoções, no aqui e agora do que deseja exprimir. Se lhe pedem num segundo momento sua idéia sobre qualquer coisa, ele não sabe mais, pois não está conectado com a alquimia de seu pensamento.
Não chega a achar as palavras que poderiam traduzir seu pensamento no mais justo do que ele pensa e sente, naquele momento. Fica subjugado a entender seu próprio pensamento se desenrolar e se organizar tão simplesmente. Quando alguém consegue precisamente deduzir das suas narrações o que ele não saberia mais dizer num segundo momento, e esse alguém fala pausadamente em seu lugar, a 'zebrinha' sente um profundo alívio, fica extasiada.
"Quando eu estou sob um modo em arborescência, é mais difícil com a linguagem pois eu posso me reencontrar com simultaneamente cinco palavras que querem dizer a mesma coisa, ou quase, e que se apresentam no mesmo momento."
Tem uma resposta intuitiva: não poder ter acesso aos procedimentos de sua consciência.
Todos os sobredotados têm esta dificuldade. Dificuldade paradoxal que reduz por sua estrutura mesma o funcionamento de toda sua riqueza intrínseca.
Sobre um plano neuropsicológico, esta singularidade se explica pela ativação de conexões neuronais que emprestam vias ultrarápidas e por si mesmas imperceptíveis à consciência. A intuição fulgurante surge da colocação em ação dessas redes de neurônios carregadas de informações. As imagens cerebrais mostram esta ativação cerebral soterrada que se alimenta de conhecimentos anteriores e da capacidade de criar conexões inéditas. A inteligência intuitiva é a resultante absoluta com suas armadilhas e seus imensos recursos.
Fora de sintomas classicamente associados a um episódio depressivo, a depressão do sobredotado pode ser qualificada de depressão sobre o vazio. O objetivo: sobretudo não mais pensar. Este vazio depressivo é um mecanismo de defesa contra os pensamentos. Não é um vazio estrutural como o que se encontra em outros quadros clínicos. A defesa pela cognição aferrolha, por sua parte, o acesso às emoções. Não mais pensar, é tentar esquecer as questões sem respostas, questões sobre si, sobre os outros, sobre o mundo, sobre o sentido da vida... e da morte.
Única saída: sabotar a inteligência. Trata-se realmente de um ataque de si, de um retorno agressivo contra si mesmo.
A inibição intelectual lhe permite igualmente se recobrir com uma máscara de pseudo-debilidade que o ajuda a passar despercebido.
As faíscas de pensamento reacendem esta vivacidade intelectual sempre intacta e a qual, apesar de tudo, o adulto sobredotado continua a se conectar. Em segredo.
Notável capacidade de manipulação do sobredotado. É inicialmente ele que testa o psicólogo, e pode dar ao psicólogo um ilusório sentimento de competência; um presente que ele dá ao psicólogo, por consideração. O sobredotado é ávido de ajuda, mas desiludido de não a encontrar.
Tem medo da solidão programada, ele no qual o afetivo é tão central. Para quem a ligação e o olhar dos outros têm tanta importância. Ele para quem o engajamento afetivo não pode ser que não o absoluto.
A dificuldade dos sobredotados não está ligada diretamente à sua diferença, mas a seu sentimento de diferença.
Sua pequena vida é religada ao sentido do mundo. Abismos de angústia sem nome. Impossibilidade de se desatar do contexto.
Para um sobredotado, raramente existe um acordo íntimo enter o que ele é e o que ele faz. Uma aceitação obrigada, fonte de frustração.
O tempo: estar sempre deslocado. Ele não está jamais sincronizado com o movimento geral. Ele está em diferença permanente: em avanço, ou não-atividade. Em atraso, ou parado. Em avanço, ele vai geralmente muito mais rápido. Problemas de comunicação com os outros: não se compreende, não se está sincronizado.
Não aproveita o presente. Seu pensamento o conduz a analisar seu presente em lembranças ou num passado mais amplo, mas também a projetar num futuro onde ele se recordará do que ele está na forma de viver aqui e agora.
Dotado daquela empatia que o confina às vezes ao masoquismo, em razão das emoções dos outros vividas por procuração...
Tem uma perspectiva visionária.
Deslocados, e, finalmente, desconfortáveis.
O atraso é uma outra forma de deslocamento. Para ele, alguns conferem uma importância desmesurada a valores que parecem a ele tão subsidiários, que estes sejam valores de sucesso, de dinheiro, de bens materiais.
Deseja ser verdadeiramente compreendido pelo que se é e ser aceito nas suas singularidades. Isto supõe um ajustamento constante.